São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 1996
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Músico baiano faz blues com berimbau

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O inovador em questão é o percussionista, compositor e cantor baiano Dinho Nascimento, 45, cujo primeiro álbum, "Berimbau Blues", está chegando às lojas pela gravadora Velas.
Falando à Folha, Dinho conta que a idéia de compor um blues para o berimbau nasceu quase oito atrás, em sua casa. Estava criando a trilha sonora para uma coreografia quando teve o "insight".
"Parei para tomar um pouco de água e, de brincadeira, comecei a bater o copo na corda do berimbau, marcando o ritmo com o pé, no assoalho. Saquei logo que tinha uma coisa legal ali."
Bem ao ritmo de Dorival Caymmi, o percussionista baiano levou quase quatro anos para transformar a curta frase inicial em um blues completo. Mas não era fácil: queria usar o berimbau como um instrumento melódico.
"Afinei o berimbau com um diapasão e aprendi a tocar a escala de blues, nota por nota, até terminar a música", conta.
Para aumentar seus recursos sonoros, na gravação Dinho usa três tipos de berimbau: o berra-boi (de som mais grave), o gunga (médio) e o viola (agudo). Os timbres dos instrumentos variam de acordo com o tamanho de suas cabaças.
Dinho aprendeu a tocar berimbau ainda garoto nas ruas de Salvador. "Eu acho que tanto o berimbau como a capoeira têm muito a ver com o blues. Até mesmo porque todos eles vieram da África", sugere o percussionista, que constrói seus próprios berimbaus.
A vontade de ampliar as possibilidades sonoras desse instrumento é antiga. No final dos anos 70, Dinho chegou a eletrificá-lo, com o auxílio de um captador.
Misturas sonoras também fazem parte do repertório do baiano há quase 20 anos -época em que se mudou para São Paulo, junto com os músicos do grupo Arembepe.
"O pessoal do tropicalismo e os Novos Baianos foram nossas grandes influências", diz, lembrando que sua primeira banda já misturava rock, reggae e ritmos afros.
Com o fim do Arembepe, em meados da década passada, Dinho passou a acompanhar figurões da MPB. Tocou com Tom Zé, Walter Franco, Renato Teixeira, Zé Keti e com a banda de rock O Terço, entre outros. Agora acompanha a dupla Pena Branca e Xavantinho.
Quando não está fazendo shows, Dinho gosta de ensinar berimbau e capoeira à garotada do Morro do Querosene, no bairro do Butantã, onde vive há 14 anos.

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