São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 1996
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Ademar, Jânio e Pitta

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Apenas a descontinuidade institucional explica a surpresa pela ascensão de Celso Pitta (PPB) na disputa pela prefeitura paulistana.
Nada mais natural, se se considerar que Pitta é o candidato tirado do bolso do colete de uma personalidade, Paulo Maluf, que tem todas as características dos homens públicos que dominaram a vida política paulista e paulistana.
Refiro-me a Adhemar de Barros e Jânio Quadros, políticos populistas, personalistas e "obreiristas", a ponto de Adhemar utilizar, em seu favor, um slogan que deveria ser depreciativo, o famoso "rouba, mas faz".
Tanto quanto Maluf, Adhemar e Jânio tiveram prolongado convívio com as urnas, mas também não se pejavam de utilizar atalhos autoritários, quando lhes convinha.
Jânio poderia ter sido o precursor do peruano Alberto Fujimori na técnica do autogolpe tivesse dado certo a tentativa de 1961 para assumir plenos poderes.
Adhemar foi interventor no Estado de São Paulo, designado pelo ditador de turno, Getúlio Vargas, em meados dos anos 40.
A rigor, nem sequer deveria surpreender a capacidade de transferência de votos que Maluf revela agora em relação a Pitta. Jânio também inventou candidatos, como Carvalho Pinto e, mais tarde, Faria Lima. O primeiro se elegeu governador. Faria Lima acabou sendo o último prefeito eleito diretamente, antes da farta safra de biônicos.
Adhemar elegeu Lucas Nogueira Garcez, uma espécie de Pitta da época.
Essa linhagem política hibernou durante o período autoritário, mas renasceu mal se reinauguraram os pleitos diretos.
Foi o próprio Jânio quem se elegeu, em 1985, 20 anos depois de Faria Lima.
Vale para o cenário atual parafrasear a propaganda do Bamerindus: o tempo passa, o tempo voa, mas o populismo continua numa boa.

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