São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 1996
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Miguel Rio Branco abre Bienal de Curitiba

ANA MARIA GUARIGLIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O fotógrafo carioca Miguel Rio Branco, 49, lança hoje, na abertura da 1ª Bienal Internacional da Fotografia de Curitiba, o livro "Nakta", com reflexões sobre a dor, a vida e a morte.
Acompanha o lançamento uma mostra com 30 fotos e três instalações. Uma das instalações, "Out-of-nowhere" traz uma montagem cinematográfica, com espelhos e fotos coladas em panos.
As imagens de bichos do livro se misturam na instalação "Pequenas Reflexões sobre uma Certa Bestialidade". O trabalho mais recente, "Porta da da Escuridão", reflete as aflições da dor e da sensualidade.
Filho de diplomata, Rio Branco estudou em Portugal, na Suíça e nos EUA, mas é autodidata.
Rio Branco é correspondente da agência francesa Magnum, mas seu fotojornalismo tem características pessoais, não descritivas, e está sempre associado às raízes do artista plástico.
Em entrevista exclusiva para a Folha, por telefone, o fotógrafo falou sobre o livro e as questões que envolvem seu novo trabalho.
*
Folha - Como nasceu a idéia de conceber um livro como "Nakta"?
Miguel Rio Branco - A idéia de realizar "Nakta" nasceu da junção de imagens do bestiário, que é a relação metafórica do homem por meio do animal. Não é o bestiário fantástico, mas calcado no real. O livro é o percurso da minha profissão, envolvendo conceitos de fotografia e de artes plásticas.
Folha - E por que o sr. só elaborou o livro em 1988?
Rio Branco - Naquele ano, sofri um desastre e decidi realizar esse trabalho. Estava em Paris, com o artista plástico e fotógrafo Jean-Yves Cousseau. O projeto evoluiu na Bienal de Roterdã, quando apresentei uma instalação. Nela, uma das projeções mostra um cachorro morrendo.
Folha - Uma dos destaques do livro é a cor dos registros. O sr. criou algum efeito especial?
Rio Branco - As cores são naturais e se relacionam com o uso da iluminação e dos filmes para slides. Só existe a imagem de um sujeito no meio da escuridão que foi colorida à mão.
Folha - Qual o motivo de o sr. ter usado no livro o poema "Nuit Close", de Louis Calaferte?
Rio Branco - Calaferte é um escritor francês. Quem conhece literatura francesa conhece Calaferte pela contundência de seu trabalho. A morte e a sensualidade são elementos sempre presentes.
Folha - No livro, as imagens navegam entre o real e a ficção, e a vida e a morte são fatores atuantes. Existe uma preocupação pessoal no sentido de questioná-las?
Rio Branco - Esses dados sempre fizeram parte do meu trabalho. Hoje em dia, acredito que ele não tem mais essa inquietação. Mas a gente sempre se preocupa. A vida e a morte são intemporais, o que conta é o enfoque emocional, que sempre faz com que as pessoas pensem mais.

Exposição: Miguel Rio Branco com lançamento do livro "Nakta"
Onde: Casa Vermelha (anexo ao Memorial de Curitiba, largo Coronel Enéas, s/ nº)
Quando: hoje, às 20h; de segunda a sexta, das 9h às 22h; aos sábados, das 9h às 15h; até 29 de setembro
Entrada: franca

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