São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 1996
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Dr. Esquisitice e o caso do peixe que ressuscitou

DAVID DREW ZINGG
EM SAMPA

Bem-vindo ao programa semanal de rádio do "Dr. Esquisitice".
Tio Dave vem recebendo um excesso de cartas (uma) aqui na Folha. Os missivistas fazem um pedido estranho: que este seu colunista favorito abra ao público seus arquivos secretos sobre as coisas mais estranhas que ajudam a compor nossa vida tão curiosa.
Assim, eu, bom sujeito que sou, me voltei àquela fonte primordial de tudo o que é curioso, meu querido amigo "Dr. Esquisitice".
O trecho que segue saiu dos arquivos particulares do "Dr. Esquisitice" e é rigorosamente verídico.
Essa fascinante entrevista foi transcrita, palavra por inacreditável palavra, de um programa de rádio canadense.
O locutor do programa telefonou para uma mulher chamada Jesse Rainer, na Inglaterra, ao ser informado de que ela, num rompante de humanidade inspiradora, havia feito respiração boca a boca em seu peixinho dourado de estimação, conhecido como "Grumpy" (Zangado).
(Tio Dave espera sinceramente que este relato espantoso de caridade humano-ictiológica cale as vozes dos defensores dos animais que escreveram para reclamar da receita de gatinho assado que publicou recentemente.)
Segue agora a íntegra da entrevista:
Locutor: Posso lhe chamar de Jesse?
Rainer: Pode. Fique à vontade.
Locutor: Conte-me o que aconteceu com seu peixinho dourado.
Rainer: Quando fui limpar o aquário, notei que o Zangado -ele se chama Zangado- estava deitado de lado no fundo do aquário. Pensei, na hora, que ele estivesse morto. Acabado. Suas guelras estavam parada (sic), suas barbatanas nem se mexia (sic). Ele nem estava respirando. Na mesma hora eu pensei que queria que ele vivesse, porque tenho outro peixinho dourado. Se o Zangado morresse, ele ficaria triste.
Locutor: E aí você fez o quê, Jesse?
Rainer: Naquele momento, a única idéia que me veio à cabeça foi dar o beijo da vida no Zangado. Tirei ele do aquário, com cuidado, e o coloquei na palma da minha mão. Então, com o rosto dele de frente para o meu, soprei de leve para dentro de sua boca algumas vezes e apertei os dedos de leve para que o coração dele recomeçasse a bater.
Depois o coloquei dentro do aquário outra vez e abri a torneira em cima dele -a de água fria. Com o ânimo daquela água fria, mais meia aspirina solúvel e um comprimido de oxigênio, 45 minutos mais tarde ele já tinha ressuscitado e estava nadando pelo aquário outra vez.
Locutor: Onde você aprendeu a fazer tudo isso?
Rainer: Em nenhum lugar. Foi uma inspiração que baixou em mim.
Locutor: Alguma vez antes você já tinha dado o beijo da vida em alguém?
Rainer: Nunca. Em ninguém, nada -em nenhum animal, nenhum humano, nada. Eu tinha que fazer aquilo, então fui lá e fiz.
Locutor: Por que você acha que o Zangado desmaiou em primeiro lugar?
Rainer: De lá para cá vários veterinários diferentes já me disseram várias coisas, deram suas opiniões. Eles acham que estava faltando oxigênio para o Zangado. Ou isso, ou que alguma coisa tinha se alojado em suas guelras. Disseram que era perigoso tirá-lo do aquário, da água.
Locutor: É, eu teria pensado a mesma coisa.
Rainer: Ele poderia ter morrido quando eu o tirei da água, e os veterinários também não acharam certo eu colocar a aspirina na água. Disseram que fiz a coisa errada.
Locutor: Como está o Zangado desde que viveu essa experiência de encarar a morte de tão perto?
Rainer: Ele anda superanimado, vive perseguindo os outros peixes no aquário.
Locutor: Essa experiência que viveu o levou a mudar?
Rainer: De certo modo, sim. Antes ele não era muito de fazer amigos. Ele sempre ficava debaixo d'água, e toda vez que eu chegava perto do aquário ele fugia para o outro lado.
Locutor: E agora isso mudou?
Rainer: Mudou completamente.
Locutor: Bem, espero que você e o Zangado tenham uma vida conjunta longa e muito feliz.
Rainer: Muito obrigada.
Locutor: Obrigado por conversar conosco.
Rainer: Obrigada. Tchau.
Locutor: Tchau.

A Inglaterra parece ter uma afinidade toda especial com histórias esquisitas envolvendo animais.
A última a chamar a atenção do "Dr. Esquisitice" foi o caso de uma lontra sem-teto que fixou residência numa máquina de lavar temporariamente vazia, numa casa de campo no condado de Surrey.
A dona da máquina, sem perceber nada, a encheu de roupa, acrescentou sabão em pó e apertou o botão que liga o aparelho.
Duas horas depois, retirou da máquina as roupas limpinhas.... e uma lontra extremamente aturdida.
O animal está sendo submetido a tratamento de combate ao estresse numa casa de recuperação de animais mantida pela Sociedade de Prevenção da Crueldade aos Animais, onde faz questão de passar longe de qualquer objeto quadrado, branco e reluzente.

Tradução de Clara Allain

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