São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 1996
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Psicose e psiquismo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O estado de sítio a que se sente conduzida boa parte da população paulistana pela violência urbana dá margem a todo tipo de desespero, como o da pai da jovem assassinada em um bar de Moema, que parece responsabilizar o cardeal de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, pela onda de criminalidade.
Desespero compreensível, alvo equivocado. O respeito aos direitos humanos não tem nada a ver com a violência, como é óbvio. Torturar presos em cadeias ou delegacias não vai abrandá-los. Ao contrário, tenderão a se tornar mais violentos, quando libertados.
É o tipo do problema para o qual não há poção mágica. Envolve distribuição de renda, emprego, educação, estrutura familiar, até a desordem urbana (a violência é um problema muito mais agudo nas megalópoles do que em cidades médias ou pequenas).
Nada disso se resolve do dia para a noite, como é óbvio. Mas essa constatação não pode funcionar como convite ao conformismo. Ao contrário. A única coisa possível de ser feita no curto e médio prazo está na área do policiamento.
O exemplo de Nova York demonstra que uma maior presença policial nas ruas ajuda a reduzir a criminalidade, ainda que não a tenha devolvido a níveis civilizados.
O secretário paulista da Segurança, José Afonso da Silva, queixa-se de que não consegue aumentar o número de PMs porque a maioria dos candidatos é reprovada nas provas. Mas esse fato não pode servir de pretexto para que não se busquem alternativas.
Entre elas, a de investigar se não há excesso de policiais fazendo serviços burocráticos, em vez de policiamento preventivo, por exemplo.
Segurança é também um problema psicológico. E o atual governo estadual nada fez, em seus 19 meses e meio de gestão, para atuar sobre o psiquismo coletivo.

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