São Paulo, sábado, 17 de agosto de 1996
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Brasileiro conquista público da Espanha

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele tem 22 anos e curso incompleto de artes plásticas, mas já foi assistente de direção do diretor norte-americano Bob Wilson, teve projeto do seu primeiro espetáculo premiado pelo governo da Catalunha e assim conseguiu montá-lo no subsolo das piscinas públicas de Barcelona.
Tiago Carneiro da Cunha agora trabalha em seu próximo projeto: um espetáculo em que pretende desafiar o tempo. Deve estreá-lo no festival de verão de Barcelona, no ano que vem.
A repercussão da primeira montagem foi tão boa que ele também recebeu convites para levar o próximo projeto a Portugal e trazer o espetáculo ao Festival de Artes Cênicas em 98. Nesse meio tempo, ele deve fazer também um projeto no vão livre do Masp.
Tiago está agora passando um período no Brasil, onde faz pesquisas e viagens para reunir imagens do Acre e da Amazônia, que serão utilizadas em projeções no espetáculo que prepara.
Ele saiu de casa para estudar artes plásticas em Nova York. Depois de algum tempo, resolveu ir para a Europa passar seis meses. Conseguiu o que não procurava: trabalhar com Bob Wilson.
"Uma amiga sabia que Bob Wilson estava procurando um assistente. Fui lá falar com ele. Fiz uma entrevista achando que não tinha chances e aconteceu."
Durante um ano e meio, Tiago viveu em Paris, Texas, Florença, Sicília e em vários outros lugares da Europa por onde os espetáculos eram feitos e levados.
Com Wilson, ele aprendeu a ter uma visão estética que converge para todos os elementos do palco: coreografia, cenografia, trabalho de ator, uso de dança, música e artes plásticas.
Além disso, Tiago adotou como tema a questão do tempo eterno e da narrativa abstrata. Em "Paraíso Perdido", projeto realizado em Barcelona, Tiago não usou diálogos. Ele montou uma gigantesca estrutura cúbica de 25m x 25m completamente branca.
Descobriu o espaço que precisava: o subsolo das piscinas públicas de Barcelona, área nunca antes utilizada. Montou a companhia ***, com jovens atores e artistas da Catalunha.
"Eles têm poucas opções de trabalho, o cenário cultural é medíocre. Optam ou pelo projeto clássico ou pelas montagens comerciais. Existe ainda pouco espaço experimental", disse.
Quando estreou "Paraíso Perdido", cerca de 500 pessoas assistiam ao espetáculo por noite. "Mesmo tendo que ficar de pé durante uma hora e dez minutos de espetáculo."
Tiago conquistou o público primeiro pela composição do espaço, que, por ser branco, parecia infinito. Depois, pela linguagem.
Baseado no poema épico de John Milton, "Paradise Lost", sua montagem mostra uma visão modificada do mito do paraíso e do pecado original, a androginia segundo o hinduísmo e Platão.
"O andrógino está em estado de perfeição espiritual. Ele é o ser completo que passa da condição divina para a humana quando se separa em homem e mulher."
Seu espetáculo foca a tragédia humana. "Os opostos tentam se reunir e sempre se frustram."

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