São Paulo, sábado, 17 de agosto de 1996
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Desorganização de setores produtivos

JOÃO VACCARI NETO

O desemprego elevado na Grande São Paulo afeta diretamente a estabilidade econômica, limita o crescimento econômico e corresponde ao lançamento de mais de 1,385 milhão de trabalhadores à mais cruel e desumana forma de exclusão social.
A escolha de um plano de estabilização que faz da valorização cambial e dos juros elevados os principais instrumentos de garantia da estabilidade de preços criou uma armadilha para a gestão da política econômica.
Ao manter as taxas de juros em patamares elevados, com o intuito de atrair capitais externos, limita a capacidade em aumentar os investimentos públicos e privados por meio da elevada inadimplência e endividamento das empresas e do Estado.
Não bastasse esse ambiente hostil, a manutenção do câmbio valorizado promove uma concorrência desigual com os produtos importados, pois, no mercado mundial, as empresas encontram crédito barato e farto.
Assim, a lógica do plano de estabilização, associada à abertura indiscriminada das importações, tem resultado numa gigantesca desorganização de importantes setores produtivos. Esse processo é responsável pela preponderância do desemprego industrial no país, mas especialmente nos grandes centros urbanos, como a Grande São Paulo.
O desemprego nos grandes centros urbanos é agravado em virtude da guerra fiscal selvagem travada por todo o país. A ausência de políticas públicas de desenvolvimento, aliada às políticas regionais de reconversão produtiva direcionadas à criação de novas fronteiras de crescimento, de geração de novos empregos e de reciclagem profissional, tem resultado única e exclusivamente na redistribuição regional do emprego, aliada ao rebaixamento dos salários dos trabalhadores e das condições de trabalho.
Além disso, essa insana guerra fiscal só tem reduzido a capacidade de investimento dos Estados e municípios, que submetem os seus poucos recursos aos interesses das grandes empresas.
A tudo isso soma-se o aspecto social do desemprego, principalmente nas grandes cidades, onde um contingente cada vez maior de ex-trabalhadores passa a habitar as ruas, sob pontes e viadutos, criando um caldo de cultura propício ao saque, ao quebra-quebra e à marginalidade. E não é agredindo trabalhadores que se vai mudar essa realidade.
A garantia da estabilidade, no médio e no longo prazo, requer que um plano de estabilização seja capaz de permitir o crescimento econômico, o aumento dos investimentos produtivos, a geração de empregos e a equidade social.

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