São Paulo, sábado, 17 de agosto de 1996
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O PT e o risco do "voto útil"

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O Partido dos Trabalhadores vai propor o "voto útil" na cidade de São Paulo a favor de sua candidata, Luiza Erundina.
A idéia é tentar convencer principalmente os eleitores de José Serra (PSDB) e de Francisco Rossi (PDT) a votar em Erundina. Na visão petista, isso impediria uma eventual vitória de Celso Pitta (PPB), o candidato de Paulo Maluf, já no primeiro turno.
Só para registro, aí vão os números mais recentes do Datafolha para a eleição em São Paulo: Pitta tem 35%, Erundina está com 23%, Rossi permanece em 16% e Serra foi para 9%.
Apesar de essa aliança parecer lógica -pelo menos dos eleitores de Serra e de Erundina-, é incerto o resultado da estratégia petista.
Nem bem a idéia começou a circular ontem, a reação do PSDB foi virulenta. A pregação do "voto útil" a favor do PT atingiu o órgão mais sensível do corpo de um tucano: o ego.
Para quem conseguiu a proeza de estabilizar a inflação em um dígito e ainda pretende governar o país por 20 anos, seria ultrajante servir de linha auxiliar do PT -um partido completamente equivocado, segundo os tucanos de carteirinha.
Mas isso não foi o pior. Os tucanos começaram a remoer lembranças ruins de outras eleições.
E não tem experiência pior para um legítimo peessedebista do que a da eleição para a Prefeitura de São Paulo em 85. Foi nesse ano que Fernando Henrique Cardoso perdeu para Jânio Quadros por uma pequena margem.
Os tucanos cultivam há anos uma mágoa dos petistas que não se renderam ao voto útil em 85. O candidato do PT naquela eleição foi Eduardo Suplicy, que teve cerca de 20% dos votos.
Teriam bastado 4% a mais dos votos em 85 para que FHC não perdesse. Mas os petistas se negaram a ajudar. A propaganda de Suplicy inclusive batia mais em FHC do que em Jânio. E Jânio ganhou.
Por isso, tem muito tucano que só de pirraça é capaz de em outubro manter o voto em José Serra. Mesmo que não existam chances reais de vitória.

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