São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Oportunidade perdida

CELSO PINTO

Curioso país o Brasil. Seu governo vive dizendo que quer e precisa de investimentos diretos de todo o mundo para ajudar seu crescimento e seu modelo de estabilização. Vai deixar passar, contudo, uma bela oportunidade de traduzir palavras em atos.
O primeiro-ministro japonês, Ryutaro Hashimoto, chega ao Brasil no próximo sábado, numa viagem que inclui também México, Peru, Chile e Costa Rica. Passa parte do sábado em Foz do Iguaçu, vem à noite para São Paulo, parte domingo para Brasília, de onde deixa o Brasil, já na segunda-feira.
Inicialmente, os japoneses imaginavam esticar a estada de Hashimoto no Brasil até terça-feira. Encurtaram a permanência porque não havia agenda relevante a preencher.
Hashimoto assinará em Brasília a troca de notas relativas aos acordos acertados na viagem recente do presidente Fernando Henrique Cardoso a Tóquio -algo pouco mais do que burocrático. Além disso, a viagem servirá para discutir a provável vinda do imperador japonês ao Brasil em maio do próximo ano.
Não prosperaram as tentativas de aproveitar a vinda de Hashimoto para colocar um leque de projetos e discussões de negócios na mesa. A discussão em torno do regime automotivo não explica a ausência de conversas mais sérias. Por mais que os japoneses estejam interessados em mudar o regime automotivo brasileiro, não misturam questões menores de curto prazo com discussões de interesse estratégico de longo prazo.
Bamerindus
O Bamerindus deverá divulgar seu balanço do primeiro semestre em breve, com bons resultados, graças à reorganização recente. Continuam, contudo, muitas conversas em relação a uma solução mais definitiva.
A direção do Bamerindus e o Banco Central têm conversado com vários bancos. Os maiores bancos foram consultados, mas não se interessaram. A conversa teria chegado, no momento, a um banco médio, com uma boa estrutura por trás e interesses no exterior.
Um dos bancos consultados foi o BCN, que acabou de absorver o Banco Itamaraty e que disse não estar interessado. Luis César Fernandes, do Banco Pactual, que é bastante próximo ao BCN, garante que não há interesse. No caso do Pactual, ele diz que não houve consulta, nem haveria interesse.
O que ajudará o balanço do primeiro semestre do Bamerindus é a recente reorganização. Os créditos ruins foram para a holding que controla o banco, enquanto a seguradora, que é lucrativa, passou para o comando do banco. A Inpacel, a problemática empresa de papel, ficou sob o controle da seguradora.
Foi um passo importante, mas entende-se que deverá ser complementado por algo mais definitivo. Sabe-se que o BC não exclui qualquer hipótese, mas parte do princípio que deveria haver transferência de controle acionário, ainda que o atual controlador, José Eduardo de Andrade Vieira, possa continuar como minoritário.
O Hong Kong and Shanghai Banking Corp. (HSBC), que tem 6% do capital do Bamerindus, aceitaria ajudar numa solução, sob condições. O banco só aceita elevar a participação acionária até 19% do capital, pois acima de 20% as leis britânicas, onde o banco é sediado, exigem a consolidação dos resultados. E só conversa em torno de uma solução que envolvesse mudança no controle.
O BC preferiria uma solução que mantivesse o Bamerindus por inteiro, o que exclui propostas que chegaram de grandes bancos nacionais. Dividir o Bamerindus poderia fortalecer demais a posição dos quatro maiores bancos privados.
BCN vai à Mesbla
Nesta terça-feira, o BCN, assessorado pelo Banco Pactual, vai conversar com a Mesbla. Há cerca de seis meses, o BCN, que é credor da Mesbla, foi ao banco discutir uma proposta de solução arquitetada pelo Pactual. A conversa foi interrompida quando o Grupo Mariani decidiu ficar com uma opção de compra da Mesbla.
Com a desistência dos Mariani, a Mesbla voltou a chamar o BCN. Fernandes, do Pactual, diz que terá de estudar novamente as condições da Mesbla. A proposta anterior envolvia a diluição do controle dos atuais acionistas e a capitalização de boa parte da dívida da Mesbla pelos credores.
O BCN tem R$ 120 milhÕes de créditos na Mesbla, mas eles estão garantidos por dois imóveis de alta qualidade: o da praça Dom José de Barros, em São Paulo, e o do Passeio Público, no Rio.

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