São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Candidato e hambúrguer

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DA REDAÇÃO

Em dois meses, do dia 14 de junho a 14 de agosto, um fenômeno aconteceu em São Paulo: seu nome é Celso Pitta e seus artífices são o prefeito Paulo Maluf e o escudeiro publicitário Duda Mendonça.
Nesse período, nas pesquisas do Datafolha, o candidato do PPB saltou de 11% para 35% das intenções de voto.
Como é possível que um discreto secretário de um prefeito operoso, mas controverso, um homem negro, carioca, sem biografia e história registradas na memória paulistana, possa despontar como o mais provável mandatário da cidade?
"Nós vivemos no mundo da imagem. O que os senhores Duda Mendonça, Maluf e Pitta querem é que votemos não numa pessoa, já que essa nós não conhecemos, mas numa campanha publicitária, que não tem passado nem rejeição", diz a psicóloga Ana Verônica Mautner, 60, autora de "Crônicas Científicas" (ed. Escuta).
Por essa explicação, Pitta seria uma espécie de mercadoria perfeita, um fetiche ideal, sem rastro de origem e história.
Uma matéria bruta, virgem, cuja forma final poderia ser inteiramente lapidada e lustrada pelas ferramentas do marketing: um produto "competente", com "cursos no exterior", "participação na iniciativa privada" e "braço direito" de uma prefeitura cujas realizações, corretas ou não, são escandalosamente visíveis.
Pitta nasce do ventre de Maluf. Mas não daquele Maluf do regime militar ou do "estupra, mas não mata". É filho do "novo" Maluf, que nasceu de seus erros e do encontro com um eficiente publicitário.
Duda Mendonça diz na entrevista acima que a diferença entre um candidato e um hambúrguer é que o segundo não fala e não tem passado. No caso de Pitta, o candidato parece não estar muito distante do recheio do sanduíche.
As pesquisas indicam claramente que o afilhado de Maluf disparou com o início da campanha pela TV.
Mendonça sabia que mais do que nunca precisaria da mídia eletrônica, tanto que fez ao prefeito uma única exigência: "Obtenha mais tempo na televisão", -o que aconteceu com a aliança com o PFL.
Mas nem ele previa que a essa altura seu candidato chegaria onde chegou. "Imaginava algo em torno de 27%, pouco acima da Erundina", diz.
Por que, então, tanta rapidez? Para o próprio Mendonça, a resposta está na nova dinâmica do horário eleitoral, fracionado ao longo da programação, que ele, melhor do que todos, soube explorar.
Basta dizer que, segundo o Datafolha, 35% dos petistas consideram o desempenho de Pitta (de Mendonça e de Maluf) ótimo ou bom no horário eleitoral. O percentual sobe para 84% entre os adeptos do PSDB.
Se essa é a opinião dos adversários, o que dizer dos simpatizantes do novo "dr. Paulo"?

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