São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Real "ajudou" Pitta, avalia Mendonça

KENNEDY ALENCAR

KENNEDY ALENCAR; MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DO PAINEL

Publicitário que faz campanha do PPB diz que Serra dá legitimidade e repercussão ao sucesso de Maluf

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Para o publicitário Duda Mendonça, a ascensão de Celso Pitta (PPB) na eleição paulistana contou com dois importantes cabos eleitorais: o presidente Fernando Henrique Cardoso e o prefeito Paulo Maluf.
"A liderança do Pitta se deve a dois tipos de circunstâncias, uma casual e outra construída", diz o responsável pela propaganda malufista na eleição.
A "circunstância construída" é a popularidade do prefeito, que "colhe os frutos, plantados há três anos e meio, de uma administração bem avaliada pela população".
Na "circunstância casual" inclui-se o mau momento que vive o governo federal em São Paulo.
Segundo Mendonça, Pitta é beneficiado pela combinação de desemprego com índices declinantes da popularidade de FHC na maior cidade do país.
Essas circunstâncias foram potencializadas por um trabalho de comunicação eficiente, como atestam as pesquisas sobre os programas e comerciais produzidos por Mendonça para a TV.
Estaria pronto, portanto, o coquetel que deu a Pitta 35% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha. "Não tenho dúvida que ele passa dos 40%", aposta.
Mendonça julga que a escolha de um nome com o peso de um ex-ministro, como José Serra, para representar FHC e o tucanato, acabou dando maior "repercussão e legitimidade" à escalada de Pitta e de Maluf.
Prevê que o próximo presidente da República terá o perfil do atual prefeito paulistano: "Pode até não ser ele, mas será um político experiente e que já fez".
Comparando a administração de Maluf com a de Mário Covas no governo paulista, o publicitário reforça sua tese para explicar a performance de Pitta: "Um governo está em pleno vapor; o outro, dá a impressão de estar parado".
Mendonça, que em determinado momento chegou a considerar que Roberto Paulo Richter, secretário paulistano de Saúde, seria o candidato ideal do neomalufismo, diz que Pitta acabou se revelando a melhor opção.
"Em pesquisas qualitativas, o Pitta foi identificado como o braço direito, como o homem que cuidava do dinheiro da prefeitura, como a pessoa que poderia continuar o trabalho de Maluf", diz.
Em parceria com o publicitário Nelson Biondi, Mendonça constatou que "Pitta entrava bem em todos os grupos da sociedade". Havia uma rejeição residual pelo fato de o candidato ser negro: "Coisa de 5% a 7%, que todos os outros pré-candidatos também tinham".
O guru de Paulo Maluf diz que tem, ele próprio, seus gurus. Cita com frequência um francês chamado Jean-Claude, que mora na Ilha de Itaparica (BA) e que criou um método de "autoconhecimento" batizado de "Be One" -que, em uma tradução literal do inglês, significa "seja um".
O pensamento de Jean-Claude é resumido da seguinte forma: "Você faz da sua vida o que você quiser. O universo dá tudo que você quiser, desde que você bote atenção nas coisas. Ponha nas coisas positivas, que elas virão".
A seguir, os principais trechos da entrevista com José Eduardo Cavalcanti de Mendonça, 52 anos, cinco filhos e fã de briga de galos.
*
Folha - Por que Celso Pitta lidera a eleição em São Paulo?
Duda Mendonça - No dia em Maluf se elegeu prefeito, disse a ele: "Chefe, a bola agora está com o sr. Nós vendemos um sonho. Vendemos que o sr. seria o melhor prefeito que São Paulo já teve. Se o sr. fracassar, não se elegerá nem deputado".
Isso aconteceu há três anos e meio. Foi o começo de um trabalho que tem sido bem feito. Maluf hoje colhe os frutos que plantou. Como no jogo, passou a onda ruim e chegou a onda boa de Maluf.
Em compensação, o governo federal vive uma onda ruim. Não adianta falar do Real. O brasileiro tem pressa e não gosta de pagar um preço alto. O desemprego tem sido um preço muito alto.
Na opinião da população, a avaliação de Fernando Henrique é controvertida. Há uma fatia que acha ele bom. E há outra fatia que acha ele ruim. Só que a fatia que acha ele ruim está concentrada em lugares como São Paulo.
Folha - Os comerciais políticos mudaram as campanhas no Brasil?
Mendonça - Os comerciais distribuídos ao longo de um dia inteiro são como antibióticos. Pegam rápido. Vi isso em uma campanha que fiz na Argentina. O programa político mais longo é como homeopatia, demora mais. Por isso, entrei com força total no começo.
Os comerciais são uma "faca de dois legumes". Você tem que chegar ao eleitor de uma forma agradável. Está entrando em um horário em que ele não lhe deu permissão. Vendedor chato não vende nada. Se ele gosta da minha propaganda, naturalmente gostará do meu candidato.
Folha - Qual a diferença entre um candidato e um hambúrguer?
Mendonça - A diferença é que um hambúrguer não fala e não tem passado. Um candidato é muito mais difícil de vender.
Folha - Muitos diziam que o prefeito seria incapaz de transferir votos. Você e o Maluf estão conseguindo eleger um poste?
Mendonça - Isso é uma besteira que não vale mais. A população não é boba. O Maluf botou o Luiz Antonio de Medeiros em 94 e não transferiu. Botou o Pitta e transferiu. Depende do candidato. Depende da gestão.
A população não sai votando em qualquer um. O que transfere é uma administração boa, um bom trabalho. Há um ano já havia dito que os bons governadores e prefeitos teriam sucesso na eleição.
Em São Paulo, 52% acham a gestão do Maluf ótima ou boa. Fizemos uma pesquisa e constatamos que 25% estavam loucos para votar no candidato que Maluf indicasse, desde que essa pessoa transmitisse a segurança de que continuaria sua administração.
Outros 25%, que aprovam a administração, sinalizavam que dependeria muito de quem fosse substituir Maluf. Esses queriam pensar um pouco.
A verdade é que se Maluf fosse candidato estaria eleito no primeiro turno.
Folha - O Pitta ganha no primeiro turno?
Mendonça - Não trabalho com essa hipótese. Até torço. Mas seria uma surpresa para mim.
Folha - O Pitta vai continuar crescendo? Até quanto?
Mendonça - Não tenho dúvida de que ele passa dos 40%.
Folha - Tudo isso seria transferência do Maluf?
Mendonça - Pesquisas que fizemos mostravam que o Maluf poderia levar o Pitta a 30%, 32%. A partir daí, ele cresceria por conta própria.
Folha - Como foi a escolha do Pitta? Há malufistas que dizem que você e o Nelson Biondi, seu sócio, preferiam o Roberto Paulo Richter, secretário de Saúde.
Mendonça - Não é verdade. Acho o Richter um cara bom. Até via nele uma campanha pronta, com o slogan "São Paulo quer Paulo novamente". Mas os outros pré-candidatos também eram bons. No final, ficamos entre o Pitta e o Richter. Fizemos uma pesquisa e vimos que o Pitta entrava bem em todos os grupos. O Richter tinha uma rejeição maior entre os mais jovens. E o Pitta estava melhor no geral.
Folha - Que tipo de rejeição há ao Pitta pelo fato de ele ser negro?
Mendonça - Normal. Residual. Coisa de 5% a 7%. Não há unanimidade. A mesma rejeição que havia ao Richter por ser velho, ao Lair (Krahenbuhl, secretário da Habitação) por ser jovem e ao Reinaldo (de Barros, secretário de Vias Públicas) por ser gordo.
Folha - O que você acha da campanha do Serra?
Mendonça - Está fria, mas não é ruim.
Folha - O governo federal escolheu bem o seu candidato?
Mendonça - Se o Serra tivesse feito pesquisa, não teria entrado nessa. Ele só veio dar mais repercussão e legitimidade à vitória do dr. Paulo. Se não tivesse entrado, poderiam dizer: "Se o Serra tivesse disputado, ganharia". Agora, não podem falar isso. Entrou o Covas. Entrou o Serjão. O Fernando Henrique e os outros entraram menos, mas vão perder. A bola da vez não era a deles.

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