São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Argentina estimula a concentração

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

O sistema bancário argentino quase entrou em colapso no início de 1995, quando enfrentou uma fuga de depósitos provocada pelo medo da desvalorização do peso em relação ao dólar.
A paridade fixa entre peso e o dólar é o centro de gravidade do programa de estabilização argentino.
Em apenas quatro meses -de dezembro de 1994 a março de 1995- foi registrada a saída de cerca de US$ 8,5 bilhões dos depósitos bancários, o equivalente a 18,7% do total.
O tiro de largada da corrida aos bancos foi a crise no México, que gerou dúvidas sobre a consistência do programa idealizado pelo então ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo.
Em dezembro de 1994, depois de o governo mexicano ter adotado o sistema de livre flutuação cambial, o peso mexicano sofreu uma desvalorização de quase 60%.
As perdas provocadas pela desvalorização geraram um movimento de fuga de investidores estrangeiros, que acabou afetando todos os países da América Latina.
Apesar de a economia argentina não apresentar sinais evidentes de debilidade, o país foi apontado como principal candidato a seguir os passos desastrosos do México.
A expectativa de crise -e de desvalorização- provocou fuga de capitais e perda de confiança no sistema financeiro.
Como consequência da brutal queda nos níveis de depósitos, o país enfrentou uma retração no crédito, que afetou a atividade produtiva. Era o início da recessão que provocaria uma queda de 4,4% no PIB (Produto Interno Bruto) do ano passado.
Fusões
Os bancos de menor porte foram os que mais perderam depósitos. Para evitar uma sucessão de quebras, o Banco Central passou a estimular a absorção dos pequenos pelas instituições maiores.
Com recursos captados no exterior, o governo criou o Fundo Fiduciário, destinado a socorrer instituições com problemas e a promover as fusões bancárias.
Aos poucos, o sistema recuperou a confiança da população. Em abril de 1995, quando o presidente Carlos Menem foi reeleito com a promessa de manter a paridade cambial, o dinheiro começou a voltar aos bancos.
Atualmente, o total em depósitos é de aproximadamente US$ 51 bilhões, US$ 3 bilhões a mais do que o registrado em novembro de 1994, antes da crise.
Credenciais
A reforma do sistema bancário foi conduzida pelo então presidente do BC, Roque Fernández. Foi justamente o êxito do processo que o credenciou para assumir o Ministério da Economia, em substituição a Cavallo.
"Graças a Fernández pudemos sobreviver ao efeito-tequila", disse o presidente da Argentina, Carlos Menem, na cerimônia de posse do ministro, no último dia 29.
Mas nem só por elogios foi marcada a gestão de Fernández. Ele foi acusado de "negligência" pela oposição por injetar cerca de US$ 200 milhões no BID (Banco Integrado Departamental) poucos dias antes da quebra do banco.

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