São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Perfil do bancário muda com a maior automação

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

O perfil dos bancários passa por uma profunda transformação, resultado da automação, terceirização, fusões, incorporações, queda da inflação e maior concorrência.
O novo bancário é o gerente ou diretor ligado à área de atendimento ao cliente, o operador de serviços telefônicos, o vendedor de produtos por telefone, o analista e programador de sistemas.
Os caixas, pagadores, escriturários e auxiliares, reconhecidos hoje como bancários e ainda maioria na categoria, perdem emprego. Suas funções tendem à extinção.
Também são reduzidos os empregos em chefias intermediárias.
A transformação foi detectada por estudo, obtido com exclusividade pela Folha, da Secretaria de Estudos Socioeconômicos (Sese) do Sindicato dos Bancários de São Paulo e do Dieese, órgão de assessoria econômica dos sindicatos.
Os dados utilizados no estudo são do Ministério do Trabalho.
"Funções braçais"
"As funções mais braçais, como a de escriturário, são facilmente substituíveis pela tecnologia, a principal causa da retração do emprego nos bancos", diz Ricardo Berzoini, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Os cartões magnéticos reduzem o volume de cheques e papel-moeda em circulação, e as funções ligadas a tesouraria, supervisão, compensação de cheques e processamento de compensação perdem importância, afirma ele.
"Todos os trabalhos que lidam com a transmissão, controle e manipulação de informações e documentos, todas as rotinas burocráticas, tendem a sofrer redução com os avanços tecnológicos", diz.
Os números confirmam: em 1986, havia 77.517 escriturários e auxiliares em São Paulo, representando 52,38% do total da categoria na cidade. Em 95, o número era de 43.048 (queda de 45%), 40,01% do total de bancários na cidade.
Há agências, mostra o estudo, nas quais simplesmente não existem mais escriturários e auxiliares.
Os serviços de auto-atendimento, caixa eletrônico, banco por computador -em casa ou no escritório- e os atendimentos por telefone reduzem a importância das agências e dos caixas.
Segundo a Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), existem 53 mil equipamentos automáticos de auto-atendimento nas agências bancárias, 11 mil caixas eletrônicos 24 horas fora das agências e 55 mil terminais de caixas instalados em lojas e supermercados em todo o país.
Além disso, mais de 280 mil clientes possuem kits distribuídos pelos bancos para a realização de transações por conexação eletrônica direta via microcomputador.
Com toda essa tecnologia, o total de bancários empregados como caixas ou pagadores na cidade de São Paulo caiu de 20 mil para 17,8 mil de 1986 para 1995.
Crédito
Berzoini defende que, se o governo ampliar o estímulo ao crédito, muitos empregos no setor bancário seriam criados.
"Com a inflação baixa há desestímulo aos ganhos especulativos. Mas o crédito poderá se tornar um grande negócio se o governo permitir. Muitos bancos já estão contratando e se reestruturando nesse sentido", afirma Berzoini.
Mas, por enquanto, o emprego no setor tem caído ano a ano, passando de 800 mil empregados em 1989 para cerca de 550 mil hoje, em todo o país. Em São Paulo, o total de bancários passou de 147.989 em 86 para 107.604 no ano passado.
Mas Berzoini não acredita na extinção da categoria bancária. "Isso é bobagem", garante.
E mostra dados de funções em crescimento na cidade de São Paulo, segundo estudo da Sese/Dieese: diretores e gerentes -passaram de 8.407 em São Paulo em 86 para 11.434 em 95-, analistas e programadores -de 1.151 para 4.381-, e operadores de serviços telefônicos -de 576 para 2.342.
"Com a maior concorrência, o telemarketing também vem ganhando força", diz Berzoini.

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