São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Violência torna paulistano 'bom filho'

LUCIA MARTINS e
RODRIGO VERGARA

RODRIGO VERGARA; LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Medo de assalto faz jovens seguir conselhos dos pais, como voltar cedo para casa, ligar e não namorar no carro

A violência em São Paulo está transformando o paulistano em "bom filho".
Para evitar assaltos, os jovens estão chegando mais cedo em casa, ligando para dizer que estão a caminho e evitando namorar dentro do carro, típicas recomendações de pais e mães.
"Quando estou saindo de um bar, ligo para meus pais para dizer que estou indo para casa, e eles me esperam", disse a tradutora Marta Nunes, 32, que, na última quinta-feira, conversava com a amiga Maria Cláudia Paroni no Barbaru's, em Moema (zona sul).
No mesmo bairro, no último dia 10, dois jovens foram mortos por assaltantes em uma choperia. No dia seguinte, outro estudante foi morto no Jabaquara (zona sul) ao deixar a namorada em casa.
As mortes fizeram com que parentes e amigos das vítimas criassem o Reage São Paulo, movimento que pretende conscientizar a sociedade e governantes da necessidade de se buscar soluções para a violência.
Namoro no carro
Maria Cláudia, 30, que foi assaltada uma vez na porta de sua casa, afirma que nunca namora dentro do carro. "Isso é coisa do passado. Quando me trazem em casa, me despeço rapidamente e entro."
O empresário Marcelo Pavão, 29, é ainda mais cauteloso quando vai levar alguém em casa. "Primeiro dou uma volta pela rua para ver se não tem ninguém estranho e só depois paro o carro."
Aos 33 anos, o engenheiro mecânico André Luís Misael, 33, já mostra preocupação de pai: "Há uma tendência entre os jovens de se descuidar do próprio zelo. Se você se expor, corre risco".
Luciana Rampasio, 23, que dividia uma mesa de bar com Misael na quinta-feira, parece ter ouvido os conselhos.
"Não vou trabalhar de bolsa ou relógio. Nem carteira eu carrego. Só o RG e o dinheiro contado."
Outra que mudou seus hábitos por causa da violência na cidade foi a comerciante Ana Lúcia Rizzi, 30. Ela "adiantou o relógio" para chegar mais cedo em casa, só vai a lugares com manobrista, se despede rápido do namorado quando ele a leva para casa e mudou o relógio para o pulso direito.
Na última quinta à noite, Ana Lúcia estava no bar Lanterna (zona oeste) com uma amiga. "Quando entrei aqui, a primeira coisa em que eu pensei foi nas mortes no Bodega", disse.
A mudança da psicóloga Marilia Pinelli, 42, não foi só de hábito. Foi também de cidade. "Depois que levaram três carros meus em seis meses, mudei para Vargem Grande Paulista (Grande São Paulo)."

LEIA MAIS sobre violência em SP à pág. 4 e sobre a redução dos crimes em Nova York nas páginas 2 e 3

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