São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Nova York exporta tecnologia anticrime

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Ao reduzir pela metade o número de assaltos e assassinatos nos últimos três anos, Nova York encantou os americanos, ganhou atenção mundial de policiais e criou um novo produto de exportação: tecnologia contra crime.
Em uma cidade estigmatizada pela violência urbana, as estatísticas fizeram uma viagem no tempo e recuaram uma geração -estão, agora, no patamar de 1968, quando houve 968 assassinatos. O roubo de automóveis despencou 30%.
Principal arquiteto da ofensiva contra o crime em Nova York, o ex-chefe de polícia William Bratton saiu do governo em abril deste ano e assinou contrato milionário com a First Security -uma das maiores empresas americanas de segurança-, dando consultoria a policiais dentro e fora dos EUA.
Com a agenda superlotada, ele chegou da África do Sul semana passada, onde presenciou um fenômeno típico de países pobres. "Não vi policial na rua."
"A experiência de Nova York é adaptável e reaplicável em qualquer país ou cidade, como São Paulo ou Rio de Janeiro", diz.
"Não param de chegar pedidos", diz Larry Curran, um dos diretores da First Security. "O crime é uma praga, e os policiais olham com reverência para Nova York."
Ex-chefe de polícia de Boston e, depois, responsável pela segurança do temível metrô de Nova York, Bratton foi indicado pelo prefeito Rudolph Giuliani, que se elegeu jurando que faria do combate ao crime sua principal prioridade.
Quando os números da criminalidade começaram a despencar, ganhando manchetes de jornais, editoriais elogiosos do "The New York Times" ou capa da revista "Time", estudiosos viram, perplexos, os resultados -que provocaram ciúmes no prefeito, o que, especulam, acabou provocando a saída de Bratton.
Bratton desafiou a visão predominante de que o crime estava ligado basicamente a fatores sociais como pobreza, marginalidade, drogas, imigração, desemprego.
Um dos mais requisitados pesquisadores americanos, David Bayley, dizia: "A polícia não consegue evitar o crime. Os especialistas e a polícia sabem disso, mas a opinião pública não sabe".
"Ninguém conseguiu entender direito o que está acontecendo", afirma o professor de direito Paul Chevigni, da Universidade de Nova York, um dos maiores estudiosos americanos sobre polícia.
Ao tomar posse, Bratton sustentou que a função da polícia era evitar o crime -e não perseguir o criminoso. Mudou 80% das cúpulas das delegacias, contratou 8.000 policiais -que andam a pé ou de bicicleta-, deu poderes às delegacias e mapeou os tipos de crimes.
Para reduzir a sensação de impunidade, a polícia fez uma aposta: se os pequenos delitos fossem combatidos, a cidade teria um clima de ordem, inibindo os mais sérios.
Aumentou o número de prisões -e de acusações de brutalidade policial. "Todos os casos são investigados e punidos", diz o ombudsman de direitos humanos da prefeitura, Robert Hammel.
Em todo o ano passado, a polícia matou 25 pessoas -bem menos que a polícia paulista em um mês.
Diante dos números, ninguém questiona que, de fato, a violência está caindo em Nova York, embora a pobreza tenha aumentado. Mas a polêmica está acesa. Estudiosos dizem que o decréscimo foi causado pela diminuição da população jovem ou pela queda do crack e que logo o crime cresceria.
Em maior ou menor grau, quase todos concordam que o policiamento preventivo influenciou para que as ruas ficassem mais calmas. "Se as pessoas não virem a polícia na rua, não há política que funcione", diz Bratton.

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