São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Lavoura de soja dá mais lucro na Bolívia

BRUNO BLECHER
ENVIADO ESPECIAL A BOLÍVIA

Terras baratas, solos férteis e custo de produção mais baixo que no Brasil atraíram, de 90 para cá, cerca de 150 agricultores brasileiros a Santa Cruz de La Sierra, no leste boliviano.
Os brasileiros são donos de 500 mil ha na região e produzem cerca de 20% da safra boliviana de soja, que na safra 96 rendeu 680 mil t.
"Hoje a imigração diminuiu um pouco, porque os próprios brasileiros inflacionaram o mercado de terras em Santa Cruz", diz o boliviano Ronnie Scott, gerente da Associação Nacional dos Produtores de Oleaginosas e Trigo (Anapo).
No início dos anos 90, pioneiros como o gaúcho Sérgio Marchetti chegaram a comprar terras na Bolívia pela bagatela de US$ 20/ha.
"O preço disparou nos últimos três anos e hoje o agricultor paga cerca de US$ 250/ha por uma área de mata e quase US$ 1.000 pelo hectare já pronto para o plantio", diz Ricardo Cambruzzi, que comanda os negócios da família Marchetti na Bolívia.
Em Rondonópolis (MT), a terra pronta para o plantio custa entre US$ 1.500 e US$ 2.000/ha.
Proprietária das Cereales Del Leste, empresa que exporta soja para o Pacto Andino e armazena 25% da produção boliviana, a família Marchetti produz 30 mil t de grãos (soja e milho) na safra de verão e mais 15.000 t (trigo, girassol e sorgo) no inverno.
As duas fazendas da família na Bolívia somam 10 mil ha. No Brasil, os Marchetti plantam 18 mil ha de soja em Rondonópolis e Campos Novos dos Parecis (MT), criam gado nelore de elite e são donos da Sementes Mônica.
"Em Santa Cruz as nossas lavouras de soja têm lucratividade 30% maior que as do Brasil. O custo de produção é baixo, porque as terras são férteis e dispensam adubo. Além disso, praticamente não existem impostos", diz Ricardo Cambruzzi.
José Fachini, 36, de Ijuí, deixou o Rio Grande do Sul em 82 para tentar a sorte no Centro-Oeste.
Montou uma fazenda, com os irmãos, em Sorrizo, no norte do Mato Grosso, mas não se deu bem.
"Lá a produtividade da soja é excelente, o clima é favorável, mas os custos são muito elevados", diz.
Com a sucessão de planos econômicos, Fachini acumulou dívidas nos bancos. Em 93 chegou de "mala e cuia" a Santa Cruz de La Sierra, onde arrendou 210 ha para o plantio de soja.
O pecuarista José Eduardo Cabral, de Londrina (PR), comprou, no final de 94, 6.000 ha de matas na região e pagou US$ 80/hectare. Hoje, o mesmo tipo de terra custa cerca de US$ 300/ha.
Cabral já abriu 530 ha para o plantio de soja e está preparando mais 1.000 ha. "Dá para tirar com a soja US$ 140 líquidos por hectare", calcula o pecuarista.

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