São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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O Banco Central de velhos vícios

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Sérgio Danese, um diplomata da nova geração, escreveu um interessante artigo sexta-feira na Folha, comparando o Brasil do presente com os EUA no início do século, quando mudanças institucionais necessárias foram feitas, e comenta que o nosso é "um país onde o velho, que ainda não morreu, luta com o novo, que ainda não acabou de nascer".
Para o Brasil se tornar uma democracia madura, é preciso mudar o modo como os órgãos governamentais tratam o público. Eu, assim como quase todos os leitores, temos diversas experiências nas quais o burocrata de plantão age com prepotência e empáfia.
Por exemplo: Fernando Rodrigues, desta Folha, foi procurar o BC e perguntou de quanto é a dívida externa brasileira. Recebeu a resposta de que isso não era sabido e a "explicação" de que é difícil compatibilizar dados sobre a dívida nova com as antigas. Assombrado, publicou isso no jornal.
Sua denúncia foi respondida pelo diretor da área externa do Banco Central dizendo que o jornalista não é do ramo. A carta, no entanto, acabou por confirmar que, de fato, o BC não sabe aquele montante, pois se baseia no valor relativo a dezembro de 1995.
A diretoria do BC é campeã em reclamações de descaso para com a opinião pública. O problema é antigo e vai desde fiscalizar mal os bancos, pular de empregos do BC para o setor privado, a não informar sobre a metodologia que usa para agregar os números das estatísticas que publica.
Nem mesmo ao Judiciário se dispõe a dar informações, recebendo nesta semana uma intimação da promotoria pública que investiga o socorro financeiro ao Banco Econômico.
Esse Banco Central cheio de vícios merece ter independência?

Álvaro Antônio Zini Júnior, 43, é professor titular de Economia Internacional da Faculdade de Economia e Administração da USP e organizador do núcleo de estudos sobre o crescimento econômico na USP.

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