São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Pesquisa é resultado da imagem social

LUCIANA BENATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A imagem da profissão perante a sociedade e sua proximidade da população são alguns fatores que podem explicar os resultados da pesquisa, dizem especialistas.
Na pesquisa espontânea, os universos sociais e profissionais de cada segmento da população foram os fatores que influenciaram na rejeição a determinadas profissões.
Essa é a conclusão da socióloga Sônia Nahas de Carvalho, 48, e da economista Paula Montagner, 37, pesquisadoras da Fundação Seade.
As profissões que fazem parte do universo urbano e que estão mais próximas dos paulistanos tendem a ser apontadas com mais frequência na pesquisa espontânea, dizem.
Por outro lado, atividades insalubres e desgastantes, mas que estão fora do universo da população pesquisada, como as do carvoeiro e do bóia-fria, não são lembradas espontaneamente pelas pessoas.
"Na resposta estimulada, profissões ligadas à morte e à sexualidade ultrapassam a dos lixeiros."
A rejeição às profissões de lixeiro, gari e doméstica também pode ser explicada pelos valores sociais.
"Esses profissionais são considerados desqualificados e com comprometimento corporal."
Para o consultor de recursos humanos Simon Franco, 57, a rejeição pela profissão de lixeiro é uma questão de respeitabilidade social, reflexo da necessidade de status.
"Gostamos de ter reconhecimento pela nobreza do trabalho. Essas profissões não têm status."
Para a socióloga Sônia, a rejeição ao trabalho dos médicos, verificada sobretudo nos segmentos mais abastados (16%) e mais escolarizados (27%), seria um reflexo da proximidade da profissão.
"Essas pessoas convivem com médicos e têm contato com as dificuldades da profissão."
Para o vice-diretor da Fuvest, José Atílio Vanin, os vestibulandos que prestam medicina -curso com uma média de 30 candidatos por vaga- têm a expectativa de ganhar dinheiro e ter sucesso profissional. "Essa escolha é mais emotiva do que racional."
Com relação à profissão de stripper, acontece o inverso: as classes mais abastadas tendem a idealizá-la e rejeitá-la em menor escala.
"Tenho dúvidas se as classes abastadas consideram a atividade profissão ou brincadeira. Pode estar no espaço do sonho."
Para a socióloga Cibele, a pesquisa evidencia que as atividades ligadas à sexualidade são vistas de forma diversa, dependendo da classe social. Já as ligadas à morte são rejeitadas de forma unânime.
(LB)

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