São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996 |
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Ovos com bacon podem eliminar convulsões de crianças com epilepsia
MARISTELA DO VALLE
O tratamento, chamado "dieta cetogênica", foi desenvolvido no Hospital Johns Hopkins, em Baltimore (EUA). Ali, os médicos conseguiram anular as convulsões de 50% das crianças tratadas, e cerca de 25% delas passaram a ter menos convulsões depois que começaram a fazer a dieta. No Brasil, os médicos da Unidade de Neurologia do Instituto da Criança estão acompanhando cerca de 20 crianças. Segundo Fabio Kok e Maria Joaquina Marques-Dias, do HC, o tratamento é indicado apenas para crianças que não se adaptaram aos medicamentos para epilepsia. "A dieta é trabalhosa, exige esforço e uma equipe bem treinada. Por isso, normalmente se dá preferência aos remédios", diz Marques-Dias. O objetivo da terapia, dizem os médicos, é produzir na circulação sanguínea um grupo de substâncias chamado corpos cetônicos. Embora os pesquisadores ainda não saibam qual a ação dos corpos cetônicos nas crianças com epilepsia, eles descobriram que essas substâncias conseguem reduzir e mesmo anular as convulsões. Em jejum As células do corpo normalmente usam duas fontes de energia: a glicose, gerada a partir de açúcar e carboidratos, e a gordura, que é transformada em corpos cetônicos quando uma pessoa está em jejum. Quando uma pessoa fica sem comer por um certo tempo, os níveis de gordura do organismo caem. Isso porque as gorduras que ficam estocadas são queimadas para produzir a energia necessária ao funcionamento do organismo. Essa quebra acontece no fígado e tem como produtos finais os corpos cetônicos. Eles são uma forma de o fígado distribuir substâncias ricas em energia, como as gorduras, para as células que estão precisando dela para funcionar. Dentro das células, os corpos cetônicos são queimados. O resultado da queima, chamada oxidação, é gás carbônico, água e energia. "Para que a gordura se transforme diretamente em corpos cetônicos, açúcar e carboidratos são praticamente proibidos na dieta", diz o médico. Isso porque a produção dos corpos cetônicos é "desligada" quando o fígado está suprido com grande quantidade de carboidratos. Segundo Kok, as crianças só comem o mínimo necessário dessas substâncias, o essencial ao bom desenvolvimento do corpo. Dieta imita o jejum A dieta, rica em alimentos gordurosos, como creme de leite, ovos e bacon, imita o que acontece ao organismo quando ele está em jejum, forçando a produção de grande quantidade de corpos cetônicos pelo fígado. "A dieta não aumenta a taxa de colesterol do organismo porque o tratamento dura pouco tempo, no máximo três anos", explica Kok. Além disso, como o teor calórico da dieta é muito alto, as quantidades a serem ingeridas são muito pequenas. "No começo da dieta, as crianças até perdem peso", diz Dias-Marques. Para fazer o tratamento, é preciso ter a assistência de uma equipe composta por neurologistas, nutricionistas e psicólogos. As crianças ficam internadas de 24 horas a 36 horas no hospital, em jejum, para que entrem em estado de cetose, isto é, comecem a produzir corpos cetônicos. No hospital, os médicos medem a taxa de açúcar da criança e reduzem a quantidade de líquido que ela pode beber, para que os corpos cetônicos se formem mais rápido. Depois disso, a criança começa a fazer a dieta. Segundo os neurologistas, algumas das crianças tratadas já começam a melhorar quando estão em jejum no hospital, mas a eficácia da dieta pode ser avaliada até dois meses após o início do tratamento. O processo pode ser traumático para uma criança que vai ficar mais de dois anos sem comer pizza, sorvete ou chocolate. Mas, para crianças que têm convulsões constantes, às vezes mais de 30 por dia, sofrem e são discriminadas por causa disso, vale o sacrifício. Texto Anterior: PRESERVAÇÃO; SAÚDE; A PALAVRA ; ASTRONOMIA; LEITE; SEXO 1; SEXO 2 Próximo Texto: 1 em cada 200 já teve epilepsia Índice |
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