São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996
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Bob Dole e o infomercial

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique aceitou cedo demais que o importante é competir.
Estivesse ouvindo um velho conselheiro seu de campanha presidencial, James Carville, que agora aconselha Paulo Maluf, seria lembrado de que não existe eleição perdida, tão cedo assim.
Em menos de uma semana Bob Dole, que perdia por 15 pontos, subiu e está agora a dois pontos de Bill Clinton, o chefe de James Carville.
O mago publicitário, em alarme, jogou no ar um novo comercial em que vincula um desfigurado Bob Dole (ver reprodução) com a destruição da previdência social norte-americana e do programa contra as drogas nas escolas e o aumento das taxas de juros, o que levaria à débâcle industrial e ao desemprego.
(Quem se revolta contra a violência retórica na campanha brasileira não tem idéia do que se passa nos Estados Unidos.)
Como acontece com o prefeito em São Paulo, a eleição norte-americana também tem um presidente com tudo a seu favor. Na verdade, até em melhor situação: sob Bill Clinton, o desemprego está em queda no país, enquanto cresce no resto do mundo.
Ainda assim, bastou um golpe de publicidade bem dado, como foi a convenção republicana, para zerar a corrida presidencial e alarmar os democratas.
Foi um "infomercial de quatro dias", na descrição ouvida ontem na CNN, com um neologismo da política norte-americana para os acontecimentos que são aparentemente jornalísticos, mas não passam, no fundo, de publicidade.
Foi uma convenção feita, como ensina a lei Ricupero, para esconder o que é ruim e reforçar o que é bom -para desespero da cobertura: a rede ABC deixou a convenção no meio, com Ted Koppel reclamando, no ar, "esta convenção está mais para um infomercial".
(A descrição da convenção como um "infomercial" surgiu no jornal "The New York Times", na coluna "On the Tube", que faz trabalho semelhante ao desta.)
Na convenção, assim, a atuação de Bob Dole no Congresso, um líder por três décadas, desapareceu. O eleitor não quer saber de parlamentar. Ficou só o Dole herói de guerra. Também desapareceu o racismo, graças a Colin Powell, e assim por diante.
A estratégia foi tão bem executada que venceu, em quatro dias, a rejeição acumulada em dois anos de radicalismo republicano no Congresso, com Dole e Newt Gingrich.
Como se vê, é cedo, até para José Serra.

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