São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996 |
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Fim-de-semana em bairros pobres e sem lazer concentra homicídios
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
No ano passado, das 4.990 pessoas assassinadas na cidade, 57,5% morreram entre sexta-feira e domingo (ou num feriado). Apesar de serem menos dias, o fim-de-semana apresenta um risco 35% maior do que de segunda a quinta. Em regiões campeãs de violência, como o Jardim Ângela (zona sul), as chances de ser morto dobram em dias de folga -como mostra levantamento feito pelo médico Marcos Drummond, do Proaim (programa do serviço funerário da capital). Outra pesquisa, realizada pela Geografia de Mercado - Estudos Empresariais, demonstra que não há nenhuma opção de lazer para os 180 mil moradores do Jardim Ângela, distrito recordista em assassinatos em São Paulo (102 homicídios só entre janeiro e junho). O quadro de absoluta falta de lugares para se divertir se repete em outras áreas da zona sul, como Grajaú (81 homicídios no primeiro semestre) e Parelheiros (30 homicídios), e da zona leste, como Lajeado (44 homicídios). Não se pode dizer que existe uma relação de causa e efeito, mas a falta de cinemas, teatros e parques de diversão nessas regiões e o crescimento da violência nos finais de semana não é só coincidência. A única alternativa de lazer que sobra nos bairros pobres torna-se um perigo. "Grande parte dos homicídios acontece no interior ou na proximidade de bares", afirma o delegado-assistente da Divisão de Homicídios, Jurandir Sant'Anna. "Estudos americanos e europeus mostram que há uma associação direta entre o álcool e a violência", diz o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira. Coordenador do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes, da Universidade Federal de São Paulo, ele explica que o álcool provoca desinibição. "Se a pessoa tem propensão à violência, ela solta as amarras", completa. É o que acontece. Segundo o delegado Sant'Anna, a maioria dos homicídios na periferia ocorre por motivo fútil, como briga de bar. Ou então é fruto da disputa por pontos de tráfico e do não-pagamento de dívidas de drogas. Nos bairros de classe média e alta o motivo é outro: mata-se para roubar, mas muito menos. Em Moema, onde a morte de dois jovens causou comoção no final de semana retrasado, houve seis homicídios no primeiro semestre. "Mata-se intensamente nas brigas de bar, durante o verão", diz Paulo Sérgio Pinheiro, coordenador-científico do Núcleo de Estudos da Violência da USP. De fato, o recorde de homicídios em São Paulo é de fevereiro: 471 casos. "O consumo de álcool é estimulado pelas elites, que não reprimem a propaganda da venda de bebidas na TV", critica Pinheiro. Para o psiquiatra Silveira, "a sociedade e a mídia tendem a ser muito complacentes com o uso de álcool e muito duras com as drogas". De 10% a 15% dos brasileiros têm problemas com álcool e só 2% são dependentes de drogas, diz. Em um programa que conseguiu reduzir 38% o número de homicídios em dois anos, o Departamento de Polícia de Nova York dedicou-se a coibir crimes "pequenos", como a venda de drogas nas ruas e embriagar-se na via pública. Em São Paulo, os homicídios caíram apenas 4% entre o primeiro semestre deste ano e igual período de 95. A polícia queixa-se da falta de pessoal: em 95, foram cerca de 330 policiais na Divisão de Homicídios para investigar 3.920 casos. Talvez por isso o percentual de solução dos homicídios seja baixo. No ano passado, só se encontraram os culpados de 47,3% dos assassinatos. Até julho deste ano, a média havia subido pouco: 48,7%. Já para os casos de latrocínio, como os dos jovens de classe média mortos em Moema, a taxa de resolubilidade é bem maior: dos 55 assaltos seguidos de homicídio que ocorreram de janeiro a julho, em 35 a polícia indiciou os culpados. Texto Anterior: Adversários de Pitta acirram ataques Próximo Texto: PMDB oferece exames ginecológicos Índice |
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