São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996
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Na frente, tricolor vai bem; lá atrás, meu Deus!

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Vou cometer aqui uma heresia: esse menino Denílson, a cada jogo, mais me faz lembrar de Canhoteiro, o Mágico. Como o saudoso mito tricolor, seus dribles se sucedem na extensão e na largura de uma folha de papel.
Aquela jogada que resultou no primeiro gol do São Paulo, ontem, foi típica: entre Denílson e o gol havia um fiapo de grama separando os adversários da linha de fundo.
Pois ele percorreu a trilha como se deslizasse num fio de navalha.
Mas se com Denílson e cia. lá na frente, o tricolor vai bem, lá atrás, meu Deus! O jeito é Parreira rezar pela volta rápida de Válber e uma adaptação imediata de Capone.
*
E o Palmeiras, finalmente, meteu a bola nas redes e pôs as cartas na mesa: está neste Brasileirão para disputar o título, sim senhor.
Pelo menos, foi a mensagem captada durante o segundo tempo arrasador do Palmeiras, sábado, contra o Coritiba. Não foi ainda um fac-símile daquele luminoso instante do primeiro semestre. Mas chegou perto.
É bem verdade que o primeiro tempo espreguiçou-se lentamente, mas o gol de Luizão serviu para dar a estabilidade emocional que no segundo tempo transformou-se numa força irresistível, sobretudo depois da expulsão do meia Alberto, do Coritiba. O jogo acabou 5 a 0, mas poderia ter-se estendido a números inconcebíveis caso o Palmeiras convertesse todas as chances desperdiçadas.
Aliás, apenas uma sequência dos dois primeiros jogos terminados em zero, que fizeram a fama dos goleiros inimigos. E o começo de uma nova fase.
*
E não é que esse tal de Piá é bom mesmo? Até sua entrada em campo, no comecinho do segundo tempo de Santos e Guarani, o jogo era uma bobagem.
Alto, magro, meio despinguelado no estilo, Piá botou fogo na partida. Na primeira intervenção, tomou a bola do adversário e tocou de pronto. Na segunda, dominou a bola e fez uma fieira de dribles cortada por falta inimiga. Na terceira, livrou-se com facilidade de dois zagueiros e meteu a bola na medida para Robert servir de bandeja a Camanducaia, que não vacilou: 1 a 0.
Depois, Jamelli foi expulso, e o Santos cedeu os espaços, a bola e o empate.
Mas restou a imagem desse novo talento que surge na Vila.
Pena que ele olha para os lados e vê que só lhe resta o solilóquio.
*
Navegando pelas parabólicas da vida, sábado, desembarquei na Alemanha para ver um show particular do africano Akpoborie, do Hansa Rostok que empatou de 2 a 2 com o Kalsruhe. Ágil, inventivo, rompedor, Akpoborie não só marcou os dois de sua equipe como esteve a pique de completar mais duas antológicas peças do futebol. É a África negra reconfirmando, mais uma vez, sua força.
Por isso, ontem, quando desembarquei em Amsterdã, foi fácil entender o que está acontecendo com o Ajax, que, em bom brasileirês, está uma baba. Cadê aqueles maravilhosos negros campeões do mundo? O time embranqueceu, descorou e perdeu o viço.

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