São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996
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Abreu explora o universo masculino

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

O dramaturgo Luis Alberto de Abreu, 44, envereda pela comédia musical.
Depois do sucesso do drama "O Livro de Jó", ele volta sua pesquisa para o universo masculino em uma fórmula mais leve, mas tocando fundo nos pontos que afligem os homens hoje em dia.
Abreu lançou na semana passada o "Projeto Homens", uma comédia musical com estréia prevista para o próximo mês que tem título provisório "Lobos".
Na realização de pesquisas sobre o tema, Abreu usa observação do dia-a-dia dos homens e também analisa a evolução de seu comportamento na história.
"Nos séculos 18 e 19, o homem era agregado à família. Com a industrialização, ele perdeu esse vínculo. A economia determina suas horas de trabalho e não lhe dá opção. O homem perdeu a mítica de ser o herói que molda o mundo. Hoje o mundo regula sua vida sem que ele tenha controle algum", afirma Abreu.
Impasses
Com isso, o homem vive hoje um impasse quanto a escolhas de vida, comportamento com as mulheres, filhos e outros assuntos.
"Quis tentar entender um pouco a psique masculina. Homens e mulheres não se entendem naturalmente, porque são almas antagônicas e complementares, por isso sempre haverá um descompasso. Mas ele também não entende a si próprio, não domina todas as transformações que acontecem com ele."
A peça é dividida em esquetes que traçam a trajetória de seis homens. Cada esquete mostra as mudanças na postura de cada um deles por meio de encontros em um mesmo bar.
"O bar é a figura central da peça. É o local do universo masculino por excelência. Ali se formam rodas de amigos, e o local chega a ser até perigoso para mulheres, já que podem haver brigas. Mulher não entra."
Ainda assim, Abreu não definiu se vai agregar à história trechos com participação em palco de uma personagem feminina.
A história começa ainda na adolescência. "Esse é o momento mais masculino, quando o garoto rompeu com sua família e ainda não tem vínculos com o universo feminino. Só existe ele e sua gangue", diz.
Aos poucos, as ligações estreitas com os amigos são rompidas e os interesses mudam. Aparecem os casos, as namoradas, o impasse entre ficar só ou ficar mal acompanhado.
Código de conduta
A comédia também vai abordar o que Abreu batizou de código de conduta masculino.
"Existe um código simples, mas que eu não consigo entender a razão de existir. Por exemplo: homem paga bebida, que é um vício, até para um desconhecido, mas nunca paga cigarro. Homem não chora. Se chorar na frente dos outros, ninguém consola. Todos ficam em silêncio em respeito a ele, mas também porque ninguém sabe ao certo o que fazer. Depois do ocorrido, ninguém toca no assunto", exemplifica Abreu.
Tudo isso, segundo ele, acaba entrando no espetáculo de forma bem-humorada e com muita música.

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