São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996
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Antonio Candido destaca atitude militante de Florestan

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em tom de depoimento, articulando história social e memória subjetiva com a lucidez que lhe é característica, o crítico literário Antonio Candido encerrou na sexta-feira a homenagem ao sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), realizada ao longo da semana no Centro Universitário Maria Antonia, região central de São Paulo.
Além de Candido, falaram sobre as várias faces da militância de Florestan o sociólogo Maurício Tragtemberg e o ex-deputado Vladimir Palmeira (PT-RJ).
"Aceitei o convite com muito prazer, já que era preciso alguém da geração de Florestan para falar sobre sua militância, o que é cada vez mais raro", disse Candido no início da exposição.
Voltando ao ano de 1943, o crítico literário disse que naquela época "Florestan não era uma pessoa muito interessada em política, não falávamos muito disso".
Recordando um encontro entre os dois e o então secretário-geral do jornal "Folha da Manhã", Hermínio Sachetta, em 45, Candido disse que Florestan contestava o "sectarismo" dos colegas já impregnados pelo marxismo.
"A convivência com Sachetta deve ter sido decisiva para que Florestan adquirisse sua consciência política", disse.
Depois de fazer sua introdução histórica, Candido foi ao ponto que o interessava: "Embora Florestan não tenha participado de nenhum partido político até entrar no PT, em 1980, ele desde muito cedo começou a desenvolver uma atitude militante."
Essa atitude, prosseguiu, desembocou na sua sociologia crítica, voltada para os problemas fundamentais da sociedade brasileira, e "na permanente capacidade de Florestan em criar escândalos, que é a marca do grande militante".
"Ele foi um antiburguês por definição, queria sempre a superação da convenção, do estabelecido", concluiu Candido.
Tragtemberg falou em seguida. Destacou que uma das maiores qualidades do sociólogo foi não ter se "burocratizado" depois de chegar ao topo da carreira universitária. "Ele não se deixou levar pelo canto da sereia", disse.
Vladimir Palmeira privilegiou a atuação parlamentar de Florestan em seus dois mandatos como deputado federal pelo PT.
Contou que durante a Constituinte, em 88, Florestan quis colocar o direito à felicidade entre os direitos fundamentais do cidadão e foi vencido pelo relator, que considerou o ponto "inconstitucional". "Ele perdeu isso na lei, mas conseguiu na vida", disse Palmeira.

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