São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996
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DEPENDÊNCIA

Amanhã, 20 de agosto, reúne-se o "Federal Open Market Committee" (Fomc), o comitê do banco central dos EUA que decide sobre política monetária e define o rumo das taxas de juros. Para as economias latino-americanas, essas reuniões tornaram-se decisivas, já que suas políticas tornaram-se particularmente dependentes dos recursos externos. E os investidores, em boa medida, orientam seus capitais ao sabor dos diferenciais entre taxas de juros nos vários mercados.
Para países como o Brasil e a Argentina, com programas de estabilização "ancorados" no controle da taxa de câmbio e, portanto, sensíveis aos movimentos de reservas internacionais nos seus bancos centrais, uma alta dos juros externos é sempre negativa. Em especial na Argentina, onde o modelo de câmbio fixo enfrenta hoje um ceticismo inédito, os rumos da política econômica são afetados de forma direta pelas decisões do Fed, o banco central dos EUA. Como se sabe, a crise mexicana do final de 1994 foi também um resultado da alta contínua dos juros americanos ao longo daquele ano. Os capitais tornaram-se menos propensos ao risco num mercado emergente. O resto é história.
Agora, felizmente, a tendência dos juros americanos não é de alta contínua. É certo que em 96 eles subiram frente a 95, refletindo uma taxa de crescimento mais forte da economia americana. Mas nas últimas semanas ocorreu o movimento inverso.
Surgiram os primeiros sinais de que a economia dos EUA mantém-se numa trajetória de crescimento moderado e com inflação sob controle. As Bolsas, que num dado momento ameaçavam despencar, encontraram um novo piso. Os juros recuaram. E ganhou força a percepção de que o Fed não deverá alterar os juros.
Essa perspectiva ficou ainda mais plausível com a divulgação, na última sexta-feira, de um relatório do Congresso norte-americano prevendo uma redução do déficit público, crescimento moderado e redução dos juros nos próximos meses.
Há sinais positivos que surgem no Japão, onde a economia está mais aquecida e aparentemente caminha para uma retomada do crescimento depois de três anos de estagnação. E mesmo na Europa o cenário pode melhorar, já que os governos fazem esforço para reduzir seus déficits sem comprometer uma gradual recuperação econômica e procurando meios de combater o desemprego.
Se confirmado o cenário de crescimento mundial moderado, com juros declinantes e inflação estável, a dependência financeira de economias como a brasileira e a argentina será mais facilmente administrada.

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