São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996
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Cancún cria sua própria "natureza"

Até cocos locais são de plástico

PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A CANCÚN

É possível estar em Cancún sem estar no México. A Cancún globalizada, que se pretende universal, sucesso de planejamento turístico construído há 20 anos, obscurece, de certo modo, as raízes de uma cultura nativa de três milênios.
Mas essa dualidade -face antiga e moderna, pobre e rica- é uma característica nacional. "As épocas ancestrais não desaparecem nunca, e todas as feridas, mesmo as mais antigas, ainda minam sangue", escreve Octavio Paz em "O Labirinto da Solidão".
"Às vezes, como as pirâmides pré-cortesianas que quase sempre escondem outras, numa cidade ou numa única alma misturam-se e superpõem-se noções e sensibilidades inimigas ou distantes", diz.
Essas misturas e superposições estão presentes em Cancún. De um lado, há 2.000 sítios arqueológicos dos maias e descendentes que falam línguas da etnia até no rádio.
Mundo estrangeiro que hoje é fonte de subsistência da quase totalidade dos 450 mil habitantes de Cancún, há três décadas uma das regiões mais miseráveis do país.
É uma pobreza que permanece translúcida por suas ruas centrais e suburbanas, como o mar do Caribe que banha sua costa.
Aqui às vezes um coqueiro não é apenas um coqueiro. É fácil percebê-los bem cuidados ao longo da avenida Kukulcán, a principal da cidade. Mas na aproximação uma surpresa: ora, os cocos são de plástico. Reflexo de uma cidade onde o natural espanta, e o artificial espanta muito mais.

LEIA MAIS sobre Cancún às págs. 6-10 e 6-11

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