São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Serpente é astro em show de luz e sombra

PLÍNIO FRAGA
DO ENVIADO ESPECIAL

No próximo dia 23 de setembro ocorre mais um equinócio, quando dia e noite têm exatamente a mesma duração. São esperadas cerca de 45 mil pessoas em Chichén-Itzá -parque de preservação de ruínas da civilização maia a 200 km de Cancún- para assistir ao "movimento" de uma cobra.
A principal ruína de Chichén-Itzá é a pirâmide dedicada a Kukulcán, divindade dos maias. Possui 30 metros de altura e uma base de 52,5 metros. Somente no equinócio, nos 91 degraus de cada uma de suas faces, por um jogo de luz e sombra, percebe-se o sinuoso rastejar de uma cobra, conforme o movimento do Sol.
É uma "cobra virtual". Sua cabeça existe de fato, talhada em pedra na ponta dos vértices da pirâmide. Mas seu corpo e movimento se formam por ilusão ótica nos degraus. A cobra é o símbolo da fertilidade maia.
A média de visitação diária do parque é de 2.000 pessoas. Nos equinócios, esse número cresce mais de 20 vezes por causa do "movimento" da cobra, uma fácil comprovação do domínio que os maias tinham da astronomia.
Os maias são um conjunto de etnias, ou seja, vários povos com línguas e costumes distintos, mas com uma unidade cultural.
Chichén-Itzá preserva moradas da elite maia, túmulos de sacerdotes e o que foi um depósito de cabeças humanas -não um símbolo da guerra, mas de sacrifício aos deuses.
Ciência
Além da pirâmide Kukulcán, o parque tem dois destaques. O primeiro é o observatório astronômico chamado El Caracol, uma construção cujas linhas se assemelham às dos atuais observatórios.
Os maias obtiveram conhecimento astronômico que os permitiu detectar o ciclo anual do Sol de 356 dias, com uma diferença de apenas 17s28 do que é calculado hoje pelos computadores.
O estudo astronômico era feito com o auxílio de tigelas de água fixas. Por meio delas, elaboravam mapas com as repetições dos fenômenos espelhados na água, uma escala reduzida do céu.
Outro destaque do parque é a área onde se realizava uma cerimônia sagrada que se assemelha um pouco a esportes como futebol ou basquete. Chamava-se "Pok-Ta-Pok" e era disputado por sete pessoas de cada lado com uma bola rudimentar.
O objetivo era fazer a bola passar por dois aros construídos em uma parede a dez metros de altura. O detalhe é que a bola não poderia ser tocada com mãos, pés ou cabeça. Só com outras partes do corpo.
As partidas representavam lutas de opostos: Sol contra Lua; dia contra noite; deuses celestes, representando vida e bem, contra deuses do "intramundo", simbolizando morte e mal.
Apenas um líder de cada equipe podia tentar passar a bola pelo arco. A honra máxima do vencedor era ser decapitado, para que sua cabeça fosse oferecida aos deuses.

Texto Anterior: Cancún cria sua própria "natureza"
Próximo Texto: Cinema é homenageado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.