São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 1996
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Erundina desautoriza "voto útil"

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiza Erundina, candidata do PT à Prefeitura de São Paulo, desautorizou ontem a pregação favorável ao "voto útil" feita por setores de seu partido, entre eles o seu candidato a vice, Aloizio Mercadante.
"Sou contra o voto útil por ser uma tese autoritária e antidemocrática", disse Erundina. Para a petista, o processo eleitoral com a eleição em dois turnos elimina a discussão sobre o "voto útil".
"O voto útil não é um voto consciente. É a negação do voto, da consciência e da democracia", afirmou. "No voto útil, o eleitor vota em um candidato para evitar que outro ganhe", declarou.
A idéia do "voto útil" no PT tem como alvo principal o eleitorado de José Serra, candidato do PSDB. Na última sexta-feira, quando Erundina começou a cair nas pesquisas, Mercadante defendeu a tese em entrevista à Folha.
"Precisamos fazer uma campanha pelo voto antimalufista, na qual o PSDB tem uma importância forte", disse. "Esse voto tem que vir para Erundina, que é a única hoje com chance de derrotar o Pitta (candidato malufista)."
A tese defendida por Mercadante contrariou a petista. É a segunda vez nesta campanha que os dois divergem. A primeira foi sobre o tom moderado da campanha na TV.
As críticas do vice ao estilo "light" da campanha provocaram a demissão de Celso Loducca, principal estrategista da publicidade de Erundina. Foi a primeira grande crise da campanha do PT.
Ontem, no entanto, Erundina evitou fazer críticas diretas ao "voto útil" de Mercadante'. "Nosso partido é democrático. Qualquer um é livre para colocar sua posição", disse. "Não vejo nenhuma dificuldade para que Mercadante pense de outra forma".
Evitar atritos
As críticas de Erundina ao "voto útil" também têm como objetivo evitar atritos com José Serra e os peessedebistas. A petista quer o apoio do PSDB no segundo turno.
A defesa do "voto útil" ainda no primeiro turno poderá prejudicar os entendimentos entre petistas e tucanos. Se a tese vingasse, poderia esvaziar a candidatura Serra.
A própria Erundina já se beneficiou do "voto útil". Na eleição para a prefeitura, em 1988, votos de Serra, que também era candidato, migraram de última hora para a petista, que se elegeu.
Na época, a eleição era decidida em apenas um turno. O "voto útil" em Erundina, que ajudou a derrotar Paulo Maluf, era defendido entre os tucanos até mesmo pelo ex-governador paulista Franco Montoro, que presidia o PSDB.
Erundina participou ontem na Bienal do Livro do lançamento do livro "Uma Veia de Utopia, a Trajetória de Luiza Erundina", de autoria da jornalista italiana Linda Bimbi. Petistas criticaram a "falta de agressividade" contra Maluf na campanha de TV da candidata.

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