São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 1996
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Reitor busca recursos alternativos

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O reitor da PUC de São Paulo, Antonio Carlos Ronca, pretende, em dois anos, conseguir fontes alternativas de financiamento para cerca de 30% dos gastos da universidade. Hoje, as mensalidades cobrem mais de 90% das despesas.
Nesta entrevista, ele fala das estratégias para isso.
(FR)
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Folha - Qual a possibilidade de manter o que a PUC é hoje, com pesquisa, ensino e extensão, vivendo apenas de mensalidades?
Antonio Carlos Ronca - O que nós estamos configurando é uma universidade comunitária, uma universidade que quer ser pública em seus objetivos, que não visa o lucro e que tem como missão principal prestar um serviço de qualidade a toda a população. Então, para isso, nós vamos para um modelo que vai ter a mensalidade de alunos como um dos fatores de contribuição, mas com bolsas para garantir que quem não tem condições de pagar possa estudar. Também estamos partindo agora para fontes alternativas de receita.
Folha - Por exemplo?
Ronca - As mais diversas. Nós prestamos serviços para empresas, para o comércio e vendemos esse serviço. A Rodhia queria fazer uma pesquisa sobre o nível de educação de seus funcionários. Contratou a PUC, que cobrou, e isso se configurou como uma pequena fonte alternativa. Temos convênios, inclusive com órgãos públicos, para prestação de assessorias. Também criamos o cartão PUC-Visa. Da anuidade, 20% vem para a universidade. Agora, devemos retomar a exploração da grife PUC, vendendo agasalhos, camisetas, o que foi um sucesso na SBPC (em julho). Criamos ainda a TV PUC, onde mantemos um programa junto com a Folha. Com a explosão da TV a cabo no Brasil, vão faltar bons programas.
Folha - Acredita-se que dá para chegar a quanto do orçamento com essas fontes alternativas?
Ronca - Se a gente conseguir, nos próximos dois anos, diminuir o índice de mensalidades -que hoje está por volta de 90 e tantos por cento-, para 70%, eu considero razoável. Paralelamente a isso, temos projetos desenvolvidos junto a agências fomentadoras, desde CNPq, Fapesp, Finep, que são agências que têm como critério básico a concessão de seus benefícios mediante a qualidade do projeto de pesquisa. Para isso, o nosso sistema de pós-graduação contribui decisivamente. Os nossos cursos têm 85% de A e B (na avaliação feita pelo MEC).
Folha - Mas há uma estratégia para captação de recursos?
Ronca - Neste semestre, eu vou estar criando uma unidade especializada nisso, à semelhança do que a Fundação Getúlio Vargas realizou. Eles criaram uma unidade e contrataram uma pessoa especializada. Hoje, nos Estados Unidos a filantropia não é uma palavra que, como aqui, carrega um sentido pejorativo. No Brasil começa a surgir isso. Nós, por exemplo, já temos aqui um outro projeto, dentro dessa estratégia de captação de recursos, que é o Projeto Ex-Aluno. Como nós temos quase 150 mil ex-alunos, 40 mil catalogados, lançamos uma campanha piloto, com resultado pequeno ainda, mas que tem uma potencialidade muito grande. Outra preocupação é de oferecer às empresas a possibilidade de pagar o estudo de seus funcionários na PUC.
Folha - E aquela idéia de uma participação mais forte de verbas estatais no orçamento da PUC?
Ronca - Se você olha hoje a situação do Estado na sociedade brasileira e das próprias universidades públicas, você vai ver um quadro muito sério. As universidades federais estão sem aumento salarial há praticamente 18 meses. Se você olha o quadro das universidades estaduais paulistas (USP, Unesp e Unicamp), também é complicado em termos da remuneração salarial dos docentes.
Folha - O período sério de crise, até 92, 93, não resultou em uma debandada de professores mais habilitados? O ensino da PUC não sofreu com essa crise?
Ronca - O maior índice que eu tenho de que houve uma recuperação é a procura de alunos. Porque o aluno tem um termômetro aguçado. Hoje por exemplo, o vestibular da PUC é organizado antes do das estaduais paulistas. E em algumas áreas nós estamos até concorrendo com elas. Além disso, hoje, há gente no auge de sua produção intelectual, com 50, 55 anos, que está se aposentando nas universidades públicas, e nós temos sido procurados.

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