São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 1996 |
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Turnê dos Pistols é vingança contra EUA
MARCEL PLASSE
Hoje, os Sex Pistols retornam à Califórnia, em sua segunda turnê americana. Vão se apresentar no Universal Amphitheatre, em Los Angeles, para punks de cabelos verdes. No fim-de-semana, fazem Hollywood, no Paladium, com show transmitido pela Internet. Ninguém espera o apocalipse revisitado. A turnê tem sido um sucesso. Começou pela Europa, em 21 de junho, e, depois dos EUA, segue para Austrália, Japão e Brasil -3 de dezembro em São Paulo. Até agora, a banda tem conseguido evitar cadeiradas. Na verdade, os aplausos da nova geração são surpreendentes. A maioria do público nos shows dos EUA não tinha nem nascido quando os Pistols ultrajaram a América. O sucesso só não é digerido pela imprensa local. Viva a ironia. Há duas décadas, a banda era condenada por ser muito punk. Hoje, os mesmos jornais reclamam que a banda é pouco punk. "Bobagem", disse John Lydon, agora novamente Johnny Rotten, na única entrevista coletiva concedida nos EUA. "Nós inventamos o punk. Nós dizemos como as coisas são. Não é ao contrário". Pouco importa que esta seja uma banda que durou só dois anos. Que outro grupo foi banido do rádio, proibido de tocar em várias cidades, contratado e despedido por duas gravadoras em questão de meses? Quem mais levou os trabalhadores da indústria fonográfica a entrar em greve (porque se recusavam a fabricar seu disco) e deixou em branco o primeiro lugar da parada de sucessos (quando "God Save the Queen" ultrapassou Rod Stewart, a parada inglesa não deu o nome da música mais vendida)? Em 1978, Johnny dizia aos caipiras de Atlanta: "Podem parar de encarar. Somos feios mesmo". Em 1996, ele diz aos caipiras do mundo: "Estamos ainda mais caídos e vocês vão nos amar". Tanto tempo e eles ainda são odiados. Mas acusá-los de vendidos é dizer o óbvio. A turnê se chama "Filthy Lucre" (lucro imundo). E é bom lembrar que um de seus discos póstumos se chamava "A Grande Farsa do Rock'n'Roll". Johnny, agora, pode cantar que é o anticristo sem revoltar a Igreja. E "God Save the Queen" é até capaz de tocar no rádio, sem que isso signifique o fim da monarquia. Os hipócritas são os outros. O jornalista Marcel Plasse viajou a Los Angeles a convite da gravadora Virgin Texto Anterior: Globo News entra no ar em setembro Próximo Texto: Disco ao vivo destrói mito Índice |
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