São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 1996
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Morte súbita

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Com o grau de eficiência das pesquisas, sobretudo no terreno eleitoral, a administração pública e sua filosofia básica, que é a política, estão cada vez mais parecidas com o futebol.
No tempo em que não havia pesquisa, uma eleição só se decidia na chamada boca-de-urna -cujo equivalente mais próximo parece ser a dança da boca da garrafa. Era uma encenação mais ou menos animada, metida a cívica, fingia-se que ia e não se ia, que novos horizontes se abriam para a plebe.
Com o aperfeiçoamento técnico das pesquisas, a imprevisibilidade caiu praticamente a zero. Sabe-se quem vai ganhar com antecedência, e até por quanto. Uma ou outra surpresa, aqui ou ali, é só para confirmar a regra.
Uma eleição é agora uma partida que dura meses, com danças no placar, impedimentos, faltas, mudanças de técnico e da tática, laterais, escanteios e até pênaltis. Existe até a possibilidade da retirada do time de campo.
A cada divulgação das pesquisas, o placar altera -nesse particular pode parecer o basquete. São raras, mas nunca improváveis, as substituições. E, como no futebol, há times fortes e times de pernas-de-pau, que ninguém entende por que diabo estão jogando.
Qualquer um pode comparar qualquer coisa a qualquer outra qualquer coisa. Entrei nessa por causa da morte súbita, que entrou em vigor na última Olimpíada e que acabou com a prosápia do Brasil. Quem fizer, leva. Isso dispensa a chatice da prorrogação e a estupidez da disputa por pênaltis.
No caso da eleição, a morte súbita pode vir ainda no tempo regulamentar. Alguns candidatos, ligados os mancômetros, devem perceber que já eram. Não estou a par da situação nas capitais, com exceção do Rio e São Paulo. Dispensável a citação de nomes. Acredito que os interessados devem ser os primeiros a saber que estão perdendo tempo e gastando um dinheiro que não é deles.

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