São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 1996
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Garotos se recusam a sair das ruas

DA REPORTAGEM LOCAL

A reportagem da Folha flagrou ontem uma confusão envolvendo duas crianças de rua e educadores do SOS Criança, na avenida Paulista (centro).
As crianças, uma menina de 9 anos e um menino de 7 anos, estavam sendo levados à sede do SOS Criança pelos educadores. Os dois choravam e se negavam a acompanhar os educadores.
O coordenador do SOS Criança, Paulo Vitor Sapienza, negou qualquer abuso por parte dos educadores. "As crianças estavam sendo exploradas pela família, que as obrigava a ir para a rua pegar esmola", disse.
A família das crianças é de Itaquaquecetuba (Grande SP). A mãe é dona-de-casa e o pai trabalha como faxineiro do metrô, ganhando R$ 150 por mês.
O avô, que teria levado as crianças para a rua a pedido da mãe, é guardador de carros. Segundo Sapienza, ele pode ser preso se ficar comprovado que ele explorava as crianças.
As crianças disseram aos educadores que ganhavam, pedindo esmolas na avenida Paulista, cerca de R$ 20 por dia. Aos domingos, quando vinham com a mãe, conseguiam cerca de R$ 60.
Segundo Sapienza, as crianças foram levadas para casa por educadores do SOS Criança, que conversariam com a mãe para impedir que as crianças voltassem para a rua. Uma cesta básica foi levada para a família.
"Ofensiva"
O trabalho dos educadores faz parte de uma "ofensiva" do SOS Criança para engajar as crianças de rua no projeto Criança Legal.
O projeto prevê a distribuição de uma moeda fictícia, o "legal", que deve substituir a esmola.
"Enquanto a sociedade continuar dando esmolas, não vamos conseguir tirar os meninos da rua", afirma Sapienza.
"Enquanto o pai rala o mês inteiro para ganhar um salário mínimo, as crianças na rua conseguem R$ 20. A esmola tira a noção de cidadania de qualquer criança", afirma.
Segundo ele, desde o início do projeto o número de atendimentos no SOS Criança aumentou por volta de 60%.
O Criança Legal completou ontem um mês. Até agora, já foram distribuídos 326 mil legais e já foram abertas 470 contas no SOS Criança.

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