São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 1996 |
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Próximo da fila da modernização
LUÍS NASSIF Um dos próximos setores a ser rescritos e modernizados pelo fim da inflação é o de transportes urbanos.O setor responde por 90% das viagens em transportes públicos nas cidades brasileiras. Transporta 50 milhões de passageiros/dia, por meio de 94 mil ônibus distribuídos por cerca de 2.000 empresas -em geral, pequenas e médias, de extração familiar, com frota de 50 a 100 ônibus cada. Gera 500 mil empregos diretos. É atividade que faz muito caixa. Recebe à vista dos passageiros e compra a prazo dos fornecedores. Nos tempos da inflação alta, o caixa era aplicado, gerando lucros financeiros muito mais expressivos do que qualquer tentativa de melhorar a rentabilidade operacional. A planilha de custos do setor (que serve de parâmetro para a fixação das tarifas) nem sequer previa margem de lucro. Com o fim da inflação, o setor está espremido entre três novas realidades. De um lado, o fim da receita inflacionária, antes que as empresas iniciassem o processo de modernização. Do outro, o fim das obras públicas, que têm levado grandes empreiteiras a entrar na área. Finalmente, a nova Lei das Concessões e o fato de a maioria das concessões em vigor ser em caráter precário. Nos próximos anos, a lei deflagrará profundo processo de mudanças, com parte das concessões mudando de mãos, e outra parte permanecendo com os concessionários atuais que conseguirem se modernizar. Heranças A modernização ainda enfrentará muitas resistências. A maior parte das empresas familiares está passando para a terceira geração. Em muitos casos, para abrigar o aumento de herdeiros, as empresas foram subdivididas, perdendo escala. Além disso, houve enorme avanço na maneira como o poder público passou a se organizar em torno do tema. Já existem fóruns de secretários municipais de Transportes, que padronizam condutas e maneiras de relacionamento com os concessionários. Esses avanços esbarram ainda em uma regulamentação que não incentiva a qualidade e a produtividade. Se uma empresa consegue ganhos de produtividade, por exemplo, há uma redução na tarifa de custos do setor como um todo, e esse ganho acaba repartido com as demais. Legislações mais inteligentes permitem que ganhos de produtividade sejam repartidos igualmente entre o público (por meio da redução de tarifas) e as empresas. Nos próximos anos, as atuais empresas terão de se fundir, modernizar e abrir capital para poder fazer frente aos novos concorrentes que estão invadindo seu espaço. No momento, no entanto, a maior parte delas faz todas as suas compras à vista, e nem sequer dispõe de balanços para se habilitar a financiamentos bancários. Trata-se de um quadro claro em que a abertura e a competição irão induzir a um rápido processo de modernização. Setor público Polícia Federal, Receita e Ministério Público Federal se reúnem no Sul para discutir quais seus papéis dentro de uma economia aberta e desregulamentada. Em Brasília, funcionários do Banco Central realizam seminário internacional para discutir o papel da instituição dentro de uma economia moderna. No Rio, a Associação Brasileira dos Bancos de Desenvolvimento promove encontro para discutir o novo papel dos bancos de fomento em uma economia federalizada e globalizada. No Rio Grande do Sul, o setor público se reúne para avaliar os resultados de programas de qualidade. Não há um só setor da vida nacional que não esteja empenhado em descobrir e perseguir novos objetivos. Colhe-se, agora, o que foi plantado no início dos anos 90, na aventura tresloucada de Fernando Collor, e a partir de julho de 1994, com o fim da inflação -apesar de todos os erros cometidos tanto num quanto em outro caso. Texto Anterior: Banco Central alemão reduz os juros Próximo Texto: PIB per capita cai no 2º ano do Real Índice |
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