São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 1996 |
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Katz acha heterossexualidade disposição não-natural
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Homossexual militante, o autor ressalva no início que "é perigoso fazer a apresentação deste livro sobre a história da heterossexualidade com a história pessoal de um homossexual", já que isso poderia "fornecer munição para aqueles ansiosos por abatê-lo a tiros sob a alegação de que é um discurso tendencioso e extravagante". O livro parece rebento tardio de duas "vitórias" da década de 60. A primeira é a contracultura, no bojo da qual nasceram o discurso feminista, a ojeriza à norma burguesa de casamento, a defesa das minorias etc. etc. A segunda, mais restrita ao âmbito acadêmico, é a explosão da historiografia das mentalidades, cujo resultado são relatos sobre a história do medo, da loucura, da higiene, da morte. Não por acaso, na confluência dessas duas tradições estão a obra e a figura de Michel Foucault, que iniciou sua carreira escrevendo sobre a "História da Loucura" e encerrou abordando a homossexualidade na Grécia Antiga. Fazendo de Foucault a sua "ferramenta", Katz expande o método do mestre até a heterossexualidade, da qual pretende fazer a genealogia, a história e a crítica. Mas Katz está longe de ter o brilho de Foucault e seu sub-foucaultianismo acaba sendo muito frustrante. Freud, transformado pelo autor num "moralista", talvez seja a principal vítima do livro. Este só sobrevive e tem razão de ser enquanto discurso político, panfleto. Em relação ao conhecimento, menos que nulo, é nocivo. Texto Anterior: Público da Bienal deve passar de 1,5 mi Próximo Texto: Torga faz prosa com poesia Índice |
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