São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 1996
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Luta antiapartheid foi justa, diz CNA

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O vice-presidente sul-africano, Thabo Mbeki, qualificou como justa a guerra de seu partido, o CNA (Congresso Nacional Africano), contra o apartheid (1948-94), o regime de segregação racial.
Mbeki compareceu à Comissão de Reconciliação e Verdade, encabeçada pelo Prêmio Nobel da Paz arcebispo Desmond Tutu, para responder às violações cometidas pelo CNA durante os anos da política de segregação racial.
Thabo Mbeki disse seu partido recorreu à violência nos anos 60 após leis brancas terem fechado as outras vias de protesto no país.
"O ponto fundamental é que nos engajamos em uma luta justa para a libertação do país", disse. "Seria moralmente errado e legalmente incorreto igualar o apartheid à resistência contra ele."
Violações
Mas o vice-presidente concordou que alguns membros do Congresso Nacional Africano violaram os direitos humanos.
Segundo os documentos, 34 pessoas foram mortas sob as ordens do CNA, entre 1980 e 1989, período em que o partido permaneceu na ilegalidade.
"A realidade crua é que nosso país não seria livre hoje se nossa emancipação tivesse dependido de oposição legal dentro do Parlamento", afirmou Mbeki.
O vice-presidente entregou um documento com cem páginas para a comissão no último dia de audiências dos partidos políticos.
"O CNA reconhece que brechas na sua política ocorreram e lamenta as mortes de civis. A liderança tentou impedir as operações contrárias à política geral", dizia a declaração do partido.
A apresentação do CNA aconteceu um dia depois de o ex-presidente Frederik de Klerk, branco, se desculpar pelos abusos cometidos pelo seu Partido Nacional.
Mas, enquanto o partido de Mandela disse aceitar a "responsabilidade coletiva" por seus crimes, De Klerk admitiu apenas que o Partido Nacional criou condições para os assassinatos cometidos pelas forças de segurança.
Em sua exposição, De Klerk não entrou em detalhes e negou ter tido conhecimento de "esquadrões da morte" brancos financiados pelo Estado. Preferiu apenas retomar acusações de terrorismo contra o partido CNA.
Foi ele quem concedeu liberdade a Nelson Mandela e conduziu o processo eleitoral que culminou com as eleições multirraciais de 1994, que levaram Mandela à Presidência.
Comissão
A Comissão de Reconciliação e Verdade foi criada no governo Mandela e investiga as violações cometidas durante a política segregacionista. A comissão também existe para indenizar as vítimas e perdoar os autores de crimes praticados no período.

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