São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O morro desceu em SP

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - "Os bandidos do Rio vieram para São Paulo, por isso aumentou a violência aqui."
Ouvi esse comentário de um velho amigo paulistano, que também está abismado com as notícias sobre a suposta escalada da violência na cidade e busca uma explicação para o fenômeno.
Quer dizer, o amigo já encontrou a resposta: a culpa é do Rio.
Durante muitos anos os moradores do Rio de Janeiro conviveram com uma espécie de paranóia coletiva.
"Um dia o morro vai descer", temiam os mais assustados com o aumento das favelas nos morros encravados nos bairros "bons" da cidade -Ipanema, Copacabana, Botafogo etc.
Um dia, temia-se, os pobres cansariam de conviver com a fartura ali ao lado e resolveriam acabar com as injustiças sociais na marra.
Isso não aconteceu, embora com os arrastões de dois anos atrás tenha chegado perto.
Mas as favelas continuam aumentando, as populações pobres permanecem desassistidas e à mercê dos criminosos que lá se instalaram e proliferaram.
O fenômeno do suposto crescimento da criminalidade em São Paulo, visto à distância, dá a impressão de que o "morro desceu".
Ou seja, a violência, antes restrita aos guetos periféricos de miséria e imunes à mídia, chegou ao asfalto dos Jardins e bairros próximos.
Certamente não são os bandidos daqui que estão atuando aí, embora possa haver casos isolados de migração.
Trata-se, sem dúvida, de criminosos que antes se restringiam aos bairros distantes e ampliaram o raio de atuação, talvez motivados pela insanidade do crack (droga rara por aqui, aliás), ou simplesmente em busca de nova "freguesia".
Mas se os paulistas estão em pânico, de sua parte os cariocas não se iludem.
Porque sabem que a violência continua, sim, ali na esquina.

Texto Anterior: Serjão está sólido
Próximo Texto: Florentina e o candidato da minhoca
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.