São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Clinton vai a reunião como conservador

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O Partido Democrata, no poder, abre amanhã a sua convenção nacional para formalizar as candidaturas à reeleição do presidente Bill Clinton e do vice, Albert Gore.
Se vencer em novembro, como indicam as pesquisas de intenção de voto, Clinton terá sido o primeiro democrata desde Franklin Roosevelt a obter mais do que um mandato presidencial nas urnas.
O partido está coeso em torno de Clinton, e seu discurso está tão moralista que poderia ter cabido bem na boca de Ronald Reagan.
Os dirigentes acreditam que a semelhança entre Clinton e Roosevelt pode ser maior e que o partido pode ficar pelo menos 16 anos seguidos no poder (ficou 22 a partir da primeira eleição de Roosevelt, em 1932), contando com Gore como sucessor natural de Clinton.
Mas, entre os eleitores norte-americanos, não há o mesmo entusiasmo. Se a convenção republicana foi um fracasso de audiência, apesar de ainda ter tido alguns momentos de drama (como os discursos de Colin Powell, Elizabeth Dole e Jack Kemp e a homenagem a Ronald Reagan), a democrata não desperta o menor interesse.
Não há outros presidentes a ser homenageados. O único vivo, Jimmy Carter, nem vai aparecer em Chicago (Meio-Oeste). Preferiu passar férias em Montana, com Jane Fonda e Ted Turner.
Os melhores momentos serão os discursos do ator Cristopher Reeve, o "Super-homem", que ficou tetraplégico, e da primeira-dama Hillary Clinton.
A impopularidade de Hillary fez com que os assessores de Clinton recomendassem que ela fosse mantida no mais baixo perfil possível durante a campanha.
Mas o sucesso de sua opositora, Elizabeth Dole, na convenção republicana foi tamanho que escondê-la acabaria tendo efeito contrário ao pretendido.
O inevitável Edward Kennedy, o melhor orador do partido e o seu líder mais carismático, também terá sua vez.
O discurso mais proeminente após as falas dos candidatos foi dado ao governador de Indiana, Evan Bayh, numa indicação de que ele poderá ser coroado como o principal aspirante à sucessão de Gore em 2008, se os planos dos dirigentes partidários continuarem dando certo até lá.
Clinton começou sua ascensão à Casa Branca em 1988, na convenção que indicou Michael Dukakis como candidato, quando fez o papel que Bayh fará neste ano.
O discurso de Clinton foi um fracasso. Longo (33 minutos) e extremamente enfadonho. A frase mais aplaudida foi: "... e para concluir". Pena que ela tenha se repetido três vezes antes da efetiva conclusão.
Mesmo assim, Clinton, então governador do Arkansas, conseguiu o que queria: projeção nacional e respeito entre os caciques democratas pelo tom moderado de suas idéias.
Agora, o presidente Clinton caiu tanto para a "direita", em particular nos temas sociais, que se tornou quase irreconhecível como democrata. Talvez assim o partido consiga de fato não deixar o poder até meados do século 21.
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