São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Reunião de 68 marcou o fim do liberalismo

Partido faz novo encontro em Chicago

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Há 28 anos, o Partido Democrata realizou sua convenção nacional em Chicago como agora, o prefeito se chamava Richard Daley, pai do atual, e a cidade virou palco de confrontos violentos.
Agora, ninguém espera que nada parecido ocorra. Alguns protestos de rua estão marcados, de entidades de homossexuais por exemplo, mas nada de muito grave.
O Partido Democrata está unido em torno do presidente Bill Clinton, ao contrário do que ocorria em 1968, quando Lyndon Johnson desistiu da reeleição, Bobby Kennedy foi assassinado, o senador dissidente Eugene McCarthy tinha quase um terço dos votos dos convencionais e o então vice-presidente, Hubert Humphrey, foi escolhido candidato à Presidência.
Nas ruas, estudantes contrários à participação dos EUA na Guerra do Vietnã faziam passeatas. O prefeito, um dos mais poderosos chefões da política de Chicago, conhecida em todo o país pelos seus métodos virulentos, colocou a polícia em cima dos manifestantes.
As cenas transmitidas pela TV eram o retrato de um país conflagrado. Para o Partido Democrata, a convenção de Chicago marcou o fim da era do liberalismo.
Embora o partido tenha mudado seu regimento interno para democratizar o processo de escolha do candidato à Presidência por causa da convenção de 1968 e isso tenha resultado na indicação do liberal George McGovern em 1972, na prática o partido foi afastado da Casa Branca no quarto de século seguinte, exceto pelo mandato único de Jimmy Carter, decorrente apenas do escândalo Watergate.
O conservadorismo da maioria dos norte-americanos se assustou com o espetáculo de Chicago. Richard Nixon foi eleito contra Humphrey graças a seu discurso em favor da "lei e ordem".
Foi reeleito em 1972 contra McGovern com uma das maiores diferenças de votos eleitorais da história. Teria feito seu sucessor em 1976 se não fosse Watergate.
As cenas de maior violência ocorreram, segundo uma comissão de inquérito da própria Prefeitura de Chicago concluiu depois, por responsabilidade da polícia, não dos manifestantes.
No afã de proteger autoridades e delegados que se hospedavam no Hilton Hotel, na avenida Michigan (famoso também pelas cenas finais do filme "O Fugitivo", ali filmadas), os policiais partiram para a agressão física contra os estudantes sem que eles tivessem feito mais do que gritar palavras de ordem e mostrar cartazes.
Jornalistas influentes como o então âncora da emissora CBS, Walter Cronkite, ficaram indignados com o que se chamou de "distúrbios policiais" e a repercussão foi enorme em todo o país.
Mesmo assim, a maioria conservadora e silenciosa atribuiu a culpa aos "provocadores da esquerda".
Os democratas continuaram com seus liberais em 1984 (Walter Mondale) e 1988 (Michael Dukakis) e perderam para a revolução conservadora de Ronald Reagan as duas vezes. Só voltaram ao poder com o neoconservador Bill Clinton, em 1992.
Agora, o partido está em paz como o país. O atual prefeito Daley é amigo de Tom Hayden, um dos "sete de Chicago", os líderes da revolta nas ruas em 1968, atualmente (após um conturbado casamento com Jane Fonda) deputado estadual pela Califórnia e delegado à convenção nacional democrata.
Mas Hayden promete ainda fazer algum barulho, inaugurando na cidade um monumento-surpresa em homenagem a seus antigos companheiros.
Mas tudo dentro dos conformes da lei e da ordem que agora todos, inclusive ele, obedecem.

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