São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Oposição quer mudar a lei de imigrantes

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DE PARIS

A oposição francesa quer reformar a legislação sobre imigração, conhecida como Lei Pasqua.
A mobilização de associações e partidos de esquerda começou após o conflito que envolveu os africanos "sans-papiers" (sem-documentos), que ocupavam uma igreja em Paris exigindo o visto de permanência na França. Eles foram presos anteontem pela polícia.
Dez dos manifestantes chegaram a fazer greve de fome de 50 dias.
A maior parte dos "sans-papiers" morava havia anos na França, tinha trabalho, moradia e um visto de permanência temporário.
Há cerca de dois anos, o visto passou a não ser renovado. Os africanos resolveram protestar, para pedir a regularização da situação.
O presidente do SOS Racismo, Fodé Sylla, afirmou que lançará, na próxima semana, uma campanha pela anulação da Lei Pasqua.
A presidente do Partido Verde, Dominique Voynet, também acha que é necessário mudar a lei após o caso dos "sans-papiers".
"O governo não se deu conta do fato de que, quando uma lei é inaplicável e injusta, é preciso mudar a lei, não nossa concepção de dignidade humana", disse.
A lei tem vários pontos polêmicos. Um estrangeiro casado com um francês há menos de um ano pode ser expulso.
Desde de janeiro de 1994, uma criança nascida na França não é automaticamente francesa. Ela terá de pedir a cidadania aos 16 anos. Seus pais não têm direito ao visto e correm o risco de expulsão.
O líder do Partido Socialista, Lionel Jospin, também critica a legislação atual.
"A Lei Pasqua não é suficientemente eficaz contra o trabalho clandestino e os imigrantes clandestinos, mas, em compensação, criou uma nova categoria entre os estrangeiros regulares e clandestinos, que é a dos homens e mulheres que tinham um status e o perderam com a lei."
O governo francês e os parlamentares de direita também querem mudar a lei, mas para torná-la ainda mais dura. "É preciso reforçar a Lei Pasqua no que diz respeito à entrada no território francês e aos controles policiais nas fronteiras", diz o deputado Jean-Pierre Philibert, da UDF (centro-direita).
Expulsão
Ontem pela manhã o governo do Mali anunciou que um charter com africanos expulsos da França era esperado em Bamako (capital).
O avião que estava à disposição do Ministério do Interior decolou às 19h (14h em Brasília) da base militar de Evreux, a oeste de Paris.
Segundo comunicado divulgado pelo Ministério do Interior francês, havia 57 imigrantes a bordo.
Um dos grevistas de fome, Moussa Keita, 29, se recusa a interromper o jejum. Os outros nove grevistas continuam internados em hospitais militares.
Os advogados dos "sans-papiers" entraram com 250 ações na Justiça para impedir a expulsão.

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