São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Rússia enfrenta seu 'novo Afeganistão'

RODRIGO LEITE
DA REDAÇÃO

A atual ofensiva dos separatistas da república autônoma da Tchetchênia traz para a Rússia o risco da sua segunda derrota militar desde a Segunda Guerra Mundial.
Até agora, essa era uma lembrança da campanha no Afeganistão, nos anos 80. Mas os rumos do conflito no Cáucaso mostram que uma nova derrota é possível -e, pior, dentro de casa, em uma região em que, até 1989, um terço da população era etnicamente russa.
Há poucos dados precisos sobre as baixas na guerra da Tchetchênia. Mas só na atual ofensiva rebelde, de 18 dias, morreram cerca de 500 soldados russos -no pior ano da guerra afegã, 1984, morreram 2.300 soldados soviéticos.
Em quase dez anos de guerra, foram 14 mil russos mortos no Afeganistão. Se a guerra na Tchetchênia durar mais três anos, o número pode ser superado.
Mas o pior para o presidente Ieltsin é o reflexo interno da guerra. Nesse ponto, ele enfrenta o mesmo problema do então líder soviético, Leonid Brejnev, que manteve uma guerra impopular por anos.
A URSS entrou no Afeganistão no final de 1979, para dar apoio ao governo comunista. Saiu quase dez anos depois, humilhada por uma derrota comparada à dos EUA no Vietnã. Tanto na Tchetchênia quanto no Afeganistão, os russos desembarcaram pensando em uma operação rápida -Ieltsin, em dezembro de 1994, dizia que a vitória seria questão de dias.
Encontraram milícias bem armadas e com conhecimento do terreno (nos dois casos, os guerrilheiros se refugiam nas montanhas à espera do momento para atacar) e não puderam manter suas tropas equipadas e motivadas.
O fim da Guerra Fria fez com que Ieltsin não tenha de se preocupar com o apoio dos EUA ao inimigo, como aconteceu no Afeganistão.
Por outro lado, com a democratização russa cresceu a oposição interna ao conflito. Para se reeleger, Ieltsin admitiu que a invasão da Tchetchênia foi um erro e prometeu uma saída negociada.
A URSS começou a perceber que a invasão tinha sido um erro mais ou menos na mesma época que a Rússia de agora, cerca de um ano e meio depois do começo da guerra.
Naquela época, o serviço secreto dos EUA dizia que a URSS enfrentava dificuldades contra os afegãos. E que a situação tenderia a piorar nos meses seguintes.

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