São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Perfil do franqueado deve ser definido

PRISCILA LAMBERT
DA REPORTAGEM LOCAL

Espírito empreendedor, capacidade de se relacionar com as pessoas e criatividade são alguns dos requisitos exigidos para se tornar um franqueado.
Mas, segundo os especialistas, nada disso adianta. Mais vale ser um bom vendedor do que uma pessoa empreendedora.
As exigências do franqueador em relação ao franqueado devem constar da Circular de Oferta de Franquia, entregue ao franqueado antes da assinatura do contrato.
A lei que regulamenta o franchising (nº 8.955) exige apenas que constem nível de escolaridade e qualificação profissional desejados, além de dedicação -exclusiva ou não- ao negócio.
Muitos franqueados acrescentam, por conta própria, cláusulas subjetivas sobre o perfil desejado.
É nessa hora que aparecem exigências de um franqueado habilidoso, organizado ou capaz de se relacionar em equipe.
Melita Prado Funaro, 34, consultora jurídica de franchising e membro da Comissão de Ética da ABF (Associação Brasileira de Franchising), considera essa questão judicialmente delicada.
Ela afirma que, se o franqueador quiser rescindir o contrato -afirmando que uma dessas cláusulas subjetivas não foi cumprida-, o caso pode parar na Justiça.
Para ela, "grandes empreendedores querem criar muito e acabam não seguindo o sistema corretamente. Por outro lado, um franqueado com formação técnica muitas vezes não sabe gerenciar um negócio".
A experiência de Edson Dacal, 43, ex-master franqueado da New Horizons -uma grande rede de treinamento em informática do mundo-, comprova essa idéia.
Dacal tinha um conhecimento amplo na área de informática quando resolveu trazer o sistema da New Horizons para o Brasil. "Fui presunçoso. Como entendia do assunto, não queria que ninguém me ensinasse", afirma.
Durante os seis primeiros meses, a escola foi bem. Depois, afirma, ele e seus sócios cometeram erros em cálculos de capital e começaram a faltar recursos.
"Jamais acatei o sistema. Enquanto eu trabalhava lá, fizemos instalações ostentosas, muito mais caras do que as que estavam previstas no plano do franqueador."
Dacal acabou vendendo suas cotas para um dos sócios. Hoje é consultor de marketing e de franquias.
Contraponto Para o gerente nacional de franchising do McDonald's, Eduardo Mortari Júnior, é fundamental que os candidatos a franqueados tenham espírito empreendedor.
"Procuramos empresários ou executivos com conhecimento em vendas, mas que saibam criar. O grande empreendedor é capaz de gerar oportunidades que aumentem as vendas", acredita ele.
O engenheiro mecânico Roberto Rosal, 52, credita seu sucesso como franqueado da escola de informática SOS Computadores a sua capacidade de gerenciar negócios.
Rosal trabalhou com escolas de datilografia durante 30 anos. Nesse período, diz, aprendeu a vender seu produto e adquiriu capacidade para trabalhar em equipe.
"Não entendia nada de computação, mas isso não impediu que me escolhessem como franqueado. Minha função não é lecionar, mas fazer com que a marca se desenvolva na região."
Segundo Palmiro Ramos Filippini Junior, 47, sócio-franqueador da SOS Computadores, a rede dá preferência para quem não seja técnico. "Se for um excelente técnico, mas mau comerciante, não contrato. O franqueado é quem deve contratar um técnico."

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