São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 1996
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Candidato é sombra do "marketeiro"

Campanhas de Tv são iguais

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

O horário eleitoral e as inserções de 30 segundos na programação diária da TV não ajudam a escolher um prefeito. Todos prometem as mesmas coisas: emprego, segurança, moradia, transporte, saúde e educação.
Não é por acaso. Os candidatos só falam o que o eleitor quer ouvir. E as pesquisas de opinião que eles contratam sempre apontam esses temas como as maiores preocupações dos eleitores -em especial em lugares como São Paulo.
É difícil optar quando os discursos são iguais e pior ainda se o eleitor não conhece o passado do candidato, como no caso de quem está votando pela primeira vez.
Nas grandes cidades, em que o candidato está longe do eleitor, a disputa eleitoral é decidida principalmente na TV e no rádio, os únicos meios de o prefeiturável atingir milhões de eleitores.
Por isso, os "marketeiros" viram as pessoas mais importantes da eleição -às vezes, até mais do que os próprios prefeituráveis.
Contratados a peso de ouro, esses especialistas em marketing bolam as estratégias, o discurso e a imagem de seus candidatos.
São pessoas como o publicitário Duda Mendonça, responsável pelos ícones da candidatura malufista de Celso Pitta: o Cingapura, o PAS e o fura-fila. Este último, um projeto que só saiu da prancheta e virou "realidade" na TV graças a trucagens de computador.
Nessa campanha eletrônica, vale mais o virtual do que o real. Não importa se os apartamentos do Cingapura beneficiaram apenas cerca de 3.500 das centenas de famílias faveladas de São Paulo.
O importante é que a propaganda de TV -como demonstra a última pesquisa eleitoral do Datafolha- conseguiu vender a esperança ao eleitor favelado de que ele só conseguirá um dia morar num Cingapura se Pitta for eleito.
O candidato malufista se beneficia da experiência adquirida por seu chefe ao longo das últimas eleições. Em campanhas frustradas, o atual prefeito aprendeu que não adianta apresentar pontes e viadutos como "obras de Maluf".
O eleitorado tem expectativa de obras sociais. Assim, apesar de o prefeito ter investido mais em túneis e avenidas do que em escolas e hospitais, o que é enfatizado na TV são os símbolos ligados à moradia, à saúde e ao transporte.
Órfãos de suas próprias idéias -como a "verticalização" de favelas, rebatizada de Cingapura-, os partidos da antiga "esquerda" correm atrás do prejuízo.
Por obra de seu "marketeiro", Luiza Erundina (PT) apareceu passeando em locais bucólicos em roupas cor-de-rosa.
A rejeição à candidata aumentou. Ela caiu nas pesquisas e o publicitário abandonou a campanha.
Como no futebol, quem ganha a eleição é o "marketeiro". Na derrota, o perdedor é o candidato.

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