São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEM TRAGAR

Na tentativa de coibir o fumo entre os adolescentes nos Estados Unidos, o presidente Bill Clinton anunciou nesta semana a assinatura de uma regulamentação federal para o uso do tabaco no país. A nova lei -mais rigorosa- passa a considerar o tabaco como uma droga.
É bem verdade que naquele país vêm se verificando ultimamente certos exageros na exaltação dos comportamentos considerados "politicamente corretos". No limite, é até mesmo de se temer que venham a proliferar, num futuro não distante, verdadeiras patrulhas de costumes, relegando-se o combate a outros problemas igualmente importantes.
Também não se pode ignorar a existência de motivações eleitorais nessa iniciativa de Clinton, que em seu projeto de reeleição deseja captar também a preferência de uma parcela do eleitorado mais conservador.
Entretanto, ao tipificar o cigarro como droga, acolhendo evidências científicas de que a nicotina causa dependência, a nova legislação permite, no mínimo, combater a tradicional complacência com a qual ainda se procuram escamotear os efeitos nocivos desse vício, tanto entre os fumantes quanto entre os que convivem com eles. Fenômeno semelhante, aliás, verifica-se em relação ao consumo de álcool.
Abre-se assim a possibilidade de abordar o problema em sua verdadeira dimensão. Uma coisa é coibir uma prática insalubre, mas considerada socialmente aceitável, e mesmo passível de livre veiculação em peças publicitárias. Outra é ter pela frente um problema oficialmente reconhecido como causador de sujeição física e que, por isso, também traz efeitos nocivos à sociabilidade.
Sob esse aspecto, o Brasil ainda tem muito a aprender com os EUA. Aqui, o "politicamente correto" nem sequer chegou a virar moda, e o estereótipo que associa tabagismo e consumo de álcool à coragem e ao sucesso ainda produz vítimas.

Texto Anterior: ALERTA CONTRA O DÉFICIT
Próximo Texto: À SOMBRA DA PAZ
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.