São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 1996
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Rede ainda não é a melhor companhia

WAYNE CURTIS
DO "TRAVEL/THE NEW YORK TIMES"

Eu havia decidido viver pela Internet na viagem de dois meses que faria do Maine ao Novo México.
Equipado com um micro portátil Apple e um modem do tamanho de um cartão de crédito, eu seria um verdadeiro explorador da fronteira eletrônica.
Buscaria na World Wide Web a sabedoria dos locais, dos aventureiros e dos viajantes, encontrando restaurantes simples, mas soberbos, e atrações escondidas.
Deixaria para traz os guias antiquados e as revistas encadernadas encontradas nos hotéis de luxo.
Eu tivera sucesso planejando pequenas viagens com a Internet, por que não na estrada? Jack Kerouac, apresento-lhe Bill Gates.
Claro que eu teria alguns problemas. O primeiro seria o acesso a linhas telefônicas. Meu plano original era acampar, longe do conforto de telefones no quarto.
Poderia tentar um celular, mas são reconhecidamente ruins para a transferência de dados, e a conta telefônica me levaria à bancarrota.
Por isso, decidi usar telefones públicos para alcançar meu servidor. Já equipado, ajustei o retrovisor e fui pela via da informação.
Primeira descoberta: poucos telefones públicos têm entrada para computadores. Então comprei um adaptador acústico, que se acopla ao fone. Mas linhas deficientes e muita estática tornaram difícil a conexão a partir de algumas áreas.
Nos poucos momentos que funcionava, a operação atraía atenção excessiva. Numa noite, num camping de Arkansas, a visão de um sujeito mexendo no telefone com um computador atraiu o guarda, que desconfiou de uma fraude contra a companhia telefônica.
Acabei obrigado a me hospedar em motéis de vez em quando, apenas para poder surfar na rede.
Informação?
A Web é capaz de fornecer uma quantidade relativamente pequena de informações em meio a um volume imenso de inutilidades.
Uma noite, em Oklahoma City, procurei no "cyberspace" um lugar para comer.
Usando um dos programas de busca mais populares, digitei "Oklahoma City" e "restaurant". Isso me levou ao "World Wide Web Restaurant Guide", com apenas dois estabelecimentos, e do outro lado da cidade.
Segui adiante, por uma série de críticas gastronômicas, mas não encontrei nada a menos de 100 km.
Pouco depois, encontrei a página de um estudante da universidade local, que recomendava uma cervejaria para refeições rápidas.
Estava quase saindo rumo ao restaurante, quando descobri que o meu "guia" era adepto de algumas causas exóticas, como a eliminação dos limites máximos de velocidade. Já pensou se sua opinião sobre comida fosse igual às suas idéias sobre políticas públicas.
Nesse ponto, juntei toda a minha coragem e energia e me dirigi ao Taco Bell ao lado do hotel.
Em outras ocasiões a busca era promissora, mas os resultados, desapontadores. Antes de chegar a Kansas City, procurei um lugar para acampar.
Com rapidez surpreendente consegui uma série de endereços e parti rumo a um parque no sudoeste da cidade, o qual parecia ideal: lago, muitos acres de floresta, uma torre de observação e diversos serviços disponíveis.
Ao chegar ao meu destino, verifiquei que tudo estava lá, menos a área para acampamento.
Na maior parte das vezes, eu obtive mais informações de comentários casuais de outros viajantes do que na Web.
Isso não significa que ela não tenha muitas qualidades, como as boas previsões do tempo.
Também fiz uma descoberta no caminho. A Internet é uma excelente ferramenta de comunicação para quem está longe de casa.
Eu recebi mensagens eletrônicas com piadas e fofocas de amigos e parentes que não valeriam o custo de um telefonema interurbano.

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