São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
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Incra acusa manobra para venda de terra

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os invasores da fazenda São Francisco, em Eldorado do Carajás (leste do Pará), são "massa de manobra" a serviço de grupos organizados que promoveriam invasões de terras para vendê-las em lotes.
A opinião é do superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no Pará, o coronel da reserva do Exército Floriano Amorim.
Em entrevista à Folha, por telefone, ele disse que a fazenda poderá ser desapropriada, mas os atuais ocupantes da área serão afastados do processo de assentamento se não forem agricultores.
Para ele, "há informes de que os invasores não são clientes da reforma agrária e sim aventureiros".
O superintendente afirmou que eles serão retirados da fazenda, no caso de a vistoria do Incra apontar que a área é improdutiva.
Segundo Amorim, atuam no leste do Pará grupos organizados que promovem invasões para vender as terras. "No caso da São Francisco, o que existe é massa de manobra, e precisamos investigar quem está por trás disso", afirmou.
Ele é um dos dois coronéis do Exército convidados pelo ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) para dirigir superintendências do Incra. O outro é Roberto Cardoso, do Mato Grosso.
História inacreditável
Amorim disse que não acredita na versão contada por Gilvan Alves da Silva, um dos invasores da fazenda, que afirmou ter sobrevivido a um massacre praticado por pistoleiro na semana passada.
"Ele é muito confuso e, até agora, ainda não apareceram os corpos dos três sem-terra que teriam sido assassinados", disse o superintendente (leia abaixo).
Ao visitar a fazenda, na semana passada, Amorim disse que a maior parte da área está tomada por cerca de cem pessoas, que já a dividiram em lotes, alguns vendidos a terceiros. "O próprio Gilvan me disse que comprou o lote de outra pessoa por cerca de R$ 300."
Venda
O fazendeiro Vinícius Pimentel, um dos donos da São Francisco, está disposto a vender ao Incra a área de 3.500 hectares para fins de reforma agrária. A decisão do fazendeiro de Bebedouro (SP) está ligada à invasão da fazenda há dois meses e à ocorrência de conflitos.
"Só me resta ser desapropriado ou receber uma liminar da Justiça para a retirada dos invasores, o que acho que nunca vou conseguir", afirmou. Pimentel disse que se sente "inseguro" para voltar à fazenda e não quis adiantar o valor que pedirá ao Incra pelas terras.

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