São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
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Sede do governo alagoano sofre atentado

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

Um atentado contra a sede do governo alagoano expôs ontem a face violenta da crise financeira vivida pelo Estado, no qual os 75 mil servidores públicos não recebem os salários há cinco meses.
Ocupantes de um Gol cinza e de um Monza verde lançaram, às 2h10, dois rojões (de 13 tiros cada) contra o Palácio dos Martírios. Ninguém ficou ferido.
As explosões quebraram os vidros da janela da sala onde funciona o protocolo do palácio e deixaram marcas de pólvora na parede branca em frente ao prédio, construído no início do século.
Os sentinelas, que se protegiam da forte chuva que caía naquela hora, não conseguiram anotar as placas dos carros e também não poderão fazer o reconhecimento dos ocupantes no inquérito aberto para apurar o caso.
Quarto atentado
O atentado de ontem foi o quarto ocorrido no Estado desde 16 de junho, quando um bomba junina estourou dentro do banheiro do gabinete do secretário de Fazenda do Estado, José Pereira de Souza, mandando o vaso pelos ares.
Um coquetel Molotov (uma garrafa com gasolina e um pavio de pano) foi lançado no último dia 18 contra a residência oficial do vice-governador de Alagoas, Manoel Gomes de Barros (PTB).
Ainda no dia 18, o Corpo de Bombeiros teve de apagar o incêndio provocado na Assembléia Legislativa, possivelmente pela explosão de outro coquetel Molotov.
Até ontem, as autoridades alagoanas não classificavam essas explosões de atentados, apesar de eles estarem sendo investigados sigilosamente pelo Serviço Reservado da Polícia Militar.
Ainda sem resultados, as investigações estão sendo concentradas na possibilidade de os atos terem sido cometidos por servidores desesperados em razão de dívidas.
"A crise financeira já é uma violência. Esses atos isolados de desespero e vandalismo não terão respaldo da sociedade", disse o governador Divaldo Suruagy (PMDB), ontem no palácio.
O chefe do gabinete Militar do governo, coronel PM José Paulo da Silva Júnior, decidiu dobrar o número de sentinelas na segurança do palácio. Antes do atentado, apenas 50 homens da PM trabalhavam em rodízio no local.
Ontem, porém, os 8.200 homens da PM alagoana não saíram às ruas. Em ato de insubordinação ao comando geral, os oficiais da PM enviaram uma lista de reivindicações para voltarem à rotina. Eles exigem o pagamento dos salários de abril e maio nesta semana.
Na semana passada o governo federal chegou a anunciar um plano de socorro financeiro para afastar a possibilidade de intervenção federal em Alagoas, requerida pela falta do repasse constitucional das verbas ao Judiciário estadual.
Porém, até ontem os recursos não tinham data para chegar. Pelo acordo, o governo federal repassaria recursos ao Estado e Alagoas entregaria a Companhia de Energia do Estado para a privatização.

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