São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
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ONGs priorizam trabalho com meninos

FERNANDO ROSSETTI
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR (BA)

As iniciativas não-formais de educação e trabalho para adolescentes -mantidas por organizações não-governamentais, igrejas e municípios- estão atendendo mais homens do que mulheres.
Uma pesquisa piloto, que mapeou essas iniciativas na Bahia, Sergipe e Alagoas, mostra que 70% dos 11 mil alunos atendidos na região são homens e 30% mulheres.
A explicação está na própria origem dessas entidades, em geral surgidas com motivações como o combate à miséria e a prevenção à delinquência juvenil.
"O menino de rua exerce uma atividade que ameaça a sociedade; a menina não agride o contexto. Também há a lógica de que o trabalho do jovem pode gerar recursos para sua família", afirma Antonio Carlos da Costa, um dos mais ativos especialistas do país na área de projetos sociais voltados para crianças e jovens.
Os resultados do projeto piloto foram apresentados ontem no encontro "Educação e Trabalho para Adolescentes", promovido pela Fundação Odebrecht em Salvador. O evento reúne mais de 50 representantes de entidades.
Com o mapeamento inicial, a Fundação Odebrecht conseguiu envolver uma série de instituições da área -Unicef, institutos Ayrton Senna e Abrasso, fundações Sirotsky e Vitae, Ministério do Trabalho, entre outras- para agora fazer um mapeamento nacional.
A estimativa é que ao todo, no Brasil, essas iniciativas atinjam 300 mil jovens -quase o triplo dos 110 mil alunos atendidos em escolas técnicas federais.
A idéia do mapeamento e da reunião dessas entidades em um encontro é aprofundar e trocar conhecimentos na área. Costa foi crítico em relação às "velhas" motivações dessas entidades.
"É um desvio pensar nessas atividades como forma de enfrentar a miséria. Hoje a exigência não é formar um operário padrão, mas sim cidadãos competentes, que não só consigam um emprego, mas estejam preparados para permanecer no mercado de trabalho".
O financiamento das iniciativas se destacou como um dos principais problemas. Quase todas as entidades têm diversas fontes de recursos e orçamentos oscilantes.
Também foi criticada a atividade de financiamento de grandes fundações -como a Odebrecht-, que põe R$ 5 milhões ao ano em projetos sociais.
A burocracia exigida para obtenção de recursos e prestação de contas estaria desviando as melhores cabeças desses projetos da área pedagógica para a gerencial, em detrimento da educação.

O jornalista Fernando Rossetti viajou a convite da Fundação Odebrecht

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