São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
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Festival de Veneza atravessa crise existencial

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

A 53ª Mostra Internacional da Arte Cinematográfica da Bienal de Veneza abre amanhã sua última edição sob a batuta do cineasta Gillo Pontecorvo, 77. "Muita coisa deve mudar, a começar dos estatutos da bienal", afirmou à Folha o diretor italiano Ettore Scola. O programa deste ano tem mesmo cara de virada.
Um amplíssimo leque é o símbolo maior da indefinição de rumos. Veneza-96 atira para todos os lados. A competição mantém-se autoral e eurocêntrica como sempre no quadriênio pontecorvino. A principal retrospectiva celebra a cultura beat (Kerouac, Ginsberg, Burroughs etc.), enquanto um simpósio de dois dias discute o cinema do terceiro milênio.
Serão sete mostras simultâneas. A competição pelo Leão de Ouro é ainda o carro-chefe, mas as seleções paralelas cada vez mais roubam-lhe atenção (leia texto ao lado). Como no ano passado, 17 longas participam, reforçados por quatro filmes fora de concurso.
O filme de abertura, "Sleepers" (Dorminhocos), traz a assinatura de Barry Levinson ("Rain Man"). Quatro adolescentes crescem, entre a cruz e o crime na "Little Italy" nova-iorquina. Robert De Niro, Dustin Hoffman e Brad Pitt encabeçam o elenco.
A competição decola também amanhã com a projeção do isolado representante asiático, "Taiping Tuenkuo" (Buda Saúda a América), do formosino Wu Nien-Jen. Somam-se a ele apenas seis outros concorrentes não-europeus. O último confirmado foi "Taám-e-ghilass" (Viagem dentro da Aurora), do iraniano Abbas Kiarostami.
Três independentes americanos marcam presença: o "cult" "Basquiat" de Julian Shnabel, a comédia "Box of Moonlight" (Caixa de Luar) de Tom DiCillo e "The Funeral" de Abel Ferrara.
Duas gerações de cineastas latino-americanos participam da disputa. O rei do neomelodrama mexicano, Arturo Ripstein, exibe "Profundo Carmesi". Já o ex-maoísta colombiano Sérgio Cabrera ("Técnicas de Duelo") lança "Ilona Llega Com La Lluvia" (Ilona Chega com a Chuva).
Brasil
O Brasil está novamente fora da competição. O único representante nacional será "Bahia de Todos Os Sambas", de Paulo Sérgio Saraceni e Leon Hirszman, programado como evento especial da quarta-feira, dia 4.
Trata-se de um documentário musical rodado durante um festival de música baiana na Roma de 1983. As estrelas são ninguém menos que Dorival e Nana Caymmi, João Gilberto e Caetano Veloso.
Favoritos? Vale arriscar algumas fichas em "The Ogre" (O Ogro), que traz de volta para atrás das câmeras o grande Volker Schlõndorff ("O Tambor"), adaptando o romance de Michel Tournier com John Malkovich no papel central de um criminoso nazista.
Também vale a aposta nos dois mestres britânicos, Ken Loach revisitando a revolução sandinista com "Carla's Song", e Neil Jordan lembrando a história irlandesa em "Michael Collins". E há Godard, que devassa a guerra civil iugoslava em "For Ever Mozart".
Ainda no programa oficial, mas "hors-concours", a atração é "O Retrato de Uma Senhora", de Henry James. Scott Hicks encerra o festival no dia 7 com "Shine".

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