São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
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Tráfico atinge por ano 1 mi de mulheres

Reunião acontece na Suécia

GILBERTO DIMENSTEIN
ENVIADO ESPECIAL A ESTOCOLMO

Barcos clandestinos da Ásia levam mulheres para Nova York, onde são mantidas como escravas sexuais por gangues chinesas -esquema semelhante ao das meninas escravizadas na Amazônia.
Desde o ano passado, a polícia persegue as pistas, mas não consegue se infiltrar na rede do tráfico de Nova York, protegida pela lei do silêncio das máfias asiáticas.
Meninas têm um valor especial para os chineses, convencidos de que conseguiriam captar a energia da juventude em relações sexuais, numa crença antiga na China.
Em 1994, policiais deram uma batida em um bordel de Taiwan e não encontraram uma única menina com mais de 15 anos e um homem com menos de 65 anos.
As rotas do tráfico envolvem todos os continentes e, segundo documento divulgado no encontro sobre exploração sexual, em Estocolmo, envolveria o tráfico de 1 milhão de mulheres por ano -35% com menos de 18 anos.
Dados coletados por polícias de vários países indicam que as rotas cruzam o planeta, envolvendo quadrilhas e contatos internacionais para cruzar fronteiras.
"Uma complexa rede de operações move crianças de pequenas vilas rurais na Ásia para cidades como Bancoc, Bombaim ou Phnom Penh; das favelas do Rio e Recife para campos de mineração na Amazônia; de Moçambique para a África do Sul; do México para Estados Unidos, de Rússia e Polônia para Europa Ocidental, da Romênia para a Itália, Turquia e Chipre", afirma o texto.
O tráfico envolve desde a sedução com promessas de bons empregos até sequestro. Não raro, as próprias famílias vendem as filhas.
As máfias da Rússia aproveitam-se da crise do país e, junto com drogas, vendem mulheres para a Europa Ocidental. As máfias chinesas usam as embarcações utilizadas para infiltrar trabalhadores nos EUA, que se prestam a serviços de baixas remunerações.
No ano passado, militantes de direitos humanos seguiram a pista de meninas desaparecidas no Nepal. Conseguiram encontrar algumas delas numa favela de Bombaim, na Índia. As nepalesas têm alto preço no mercado indiano por causa de sua pele mais clara.
Foi levado a Estocolmo o caso de Moi, de 16 anos, habitante de uma vila no Camboja, que recebeu uma promessa de emprego numa cidade grande. Mas foi vendida para um bordel por US$ 150 -e, daí, seu preço foi subindo.
Passou por cinco bordéis e chegou a valer US$ 750. Recuperada pela polícia, disse que era forçada a dormir com até dez homens por dia, sem receber dinheiro.

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