São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
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TARDE, MAS NÃO DEMAIS

Demorou, mas finalmente as autoridades econômicas se dignaram a dar números sobre o Proer, o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional.
Estudo preparado pelo Ministério da Fazenda procura demonstrar que, na pior das hipóteses, o custo do Proer corresponderá a 1% do PIB. Tratar-se-ia, na hipótese mais pessimista, de cerca de R$ 7 bilhões.
O estudo tem o mérito de refutar a visão leiga de que todo dinheiro que saiu do Proer é uma perda irrecuperável. Trata-se de financiamento e, assim, é legítimo esperar que algum retorno ocorra no futuro, reduzindo os custos fiscais do programa.
O trabalho da Fazenda assinala também que em crises bancárias sistêmicas o custo chegou a 5,1% do PIB (caso dos Estados Unidos em 91) e 19,6% do PIB (o Chile, em 85).
Mas se se reconhece que as cifras são razoáveis, é preciso relevar algumas críticas ainda não respondidas.
Sejam quais forem as contas (e nelas há sempre boa margem para hipóteses sobre o retorno de um financiamento), há em primeiro lugar a questão de avaliar o grau de risco de cada uma das operações e a legitimidade de se colocarem, todas, sob a categoria de "crise sistêmica".
Em segundo lugar, ao tratar apenas do Proer, o trabalho certamente subestima os passivos podres que ainda estão sem solução no sistema, em especial o bilionário rombo do Banespa, nem computa transferências por outras vias, como o igualmente bilionário aporte do Tesouro ao Banco do Brasil, para ficar em apenas dois exemplos.
Em suma, não se trata de invalidar os números oficiais, mais que oportunos, e sim de avaliá-los na devida perspectiva quantitativa e qualitativa.
Foi bom evitar o pior. Que o governo reconheça os custos envolvidos, mesmo que para subestimá-los, é melhor do que o discurso anterior, de que se usava apenas o próprio "dinheiro dos bancos".
Antes tarde que tarde demais.

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